Digam o que quiserem, mas estas novas “acções climáticas” têm-se multiplicada de forma particularmente aberrante. Já havia uma líder espiritual, Greta Thunberg, que sabia melhor como governar os povos do que todos os líderes eleitos, conforme se viu naquela reunião da ONU, que a tantos deixou embevecidos (apesar da própria já estar a crescer nalguns aspectos). O seu exemplo de não ir à escola tem feito escola, se me permitem o contrassenso.
Há dias, num especial creio que da RTP, assisti a um conjunto de jovens “activistas” e às suas ideias para aplacar a crise climática. Diziam os frequentadores do ensino secundário que iam fazer jornadas de greve às aulas e exigiam nada menos que a proibição de uso de combustíveis fósseis, imediatamente. Em paralelo, diziam que se o Mundo não tinha futuro, então de nada lhes servia aprender, daí a greve às aulas. E também que o voto era uma coisa desnecessária, que mais importante para a cidadania era “o activismo de rua”. E quando surgiam os seus nomes, reais ou “de guerra”, aparecia também por baixo, à laia de profissão, a palavra “activista”.
Isto preocupou-me, confesso. Sei que dementes, seitas e figuras auto-messiânicas sempre as houve. Como a natureza humana não muda de um século para o outro, a actualidade não havia de ser diferente. A diferença é que a comunicação e as formas de propaganda são hoje infinitamente maiores. E permitem que qualquer grupelho radical espalhe as suas mensagens com o beneplácito de algumas instituições.
Devo desde já dizer que não sou um céptico de mudanças climáticas (embora pense que as previsões a longo prazo são problemáticas e que o homem não é necessariamente o seu único causador) e muito menos da protecção do ambiente. Fiz parte de várias associações ambientalistas e das listas do MPT, justamente o único partido ecologista português sem radicalismos urbanos. Por isso mesmo, sei que as ideias mais nobres redundam normalmente em fanatismos aberrantes. É o caso.
Temos, portanto, jovens do ensino secundário a fazer o elogio da ignorância, da não aprendizagem e da recusa da democracia, ou pelo menos a defender uma espécie de “democracia de rua”. Coisas tão importantes, como o direito ao voto e à escolaridade, pelas quais tantos se bateram, são postas de lado por imberbes que têm tudo por adquirido. Talvez por isso alguns atentam contra obras de arte com perguntas estúpidas como “o que é que vale mais, este quadro ou o ambiente”, como se fossem comparáveis e a destruição da arte de alguma forma ajudasse o clima, mas perguntar isso seria demasiado complicado a semelhantes amibas. E também querem acabar de imediato com os combustíveis fósseis, ou seja, parar por inteiro a sociedade. Como se deslocariam? Como se aqueceriam? Quem lhes traria os seus produtos vegan? “Ah, mas para se deslocarem há as bicicletas, as trotinetes e o metro”. Brilhante, da parte de quem vive nas cidades com alguma dimensão. Vão perguntar aos agricultores de Trás-os-Montes ou do Alentejo se não se querem deslocar dessa forma. Transportar produtos agrícolas de trotinete em Vimioso deve ser espectacular. E também lhes podiam relembrar que existe uma penosa guerra na Ucrânia que está a conduzir a uma crise energética, económica e financeira. Não se terão dado conta disso? Talvez fosse bom olhar para fora da bolha.
Ainda um efeito nefasto destas novas seitas climáticas: o fanatismo vai levar muitos a afastar-se e a recusar práticas mais favoráveis ao ambiente. Numa altura em que pululam as teorias da conspiração de toda a ordem, já se fala da farsa do ambientalismo”, do “great reset climático”, etc. Esta gente, com as suas acções cretinas que apenas prejudicam, ou visam prejudicar, a vida de tantos, só vai dar mau nome à ecologia, afastando potenciais defensores criando novos inimigos e polarizações. Um enorme tiro de canhão no pé. E, no entanto, são razões de magna importância, que não mereciam ser prejudicadas pelos fanáticos climáticos sem mais nada para fazer (ou por oportunistas conhecidos para fazer aproveitamente político, mal começam a fazer misturas com o anticapitalismo, antiracismo, etc). Mas, quem sabe, mais do que proteger o ambiente, a ideia deles seja mesmo causar polarização extrema, ainda mais. Parece que está na moda. E agora noto que utilizei uma palavra, “ecologia", que passou de moda. E é pena, grande pena.
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