sábado, abril 21, 2012

Bizantinices


Duas questões gravíssimas atormentaram a Humanidade (a eurocêntrica, ao menos) esta semana: a saudação de Anders Breivik e a lesão de Juan Carlos I numa caçada.

O assassino em série norueguês entrou na sala de audiência fazendo uma saudação de braço estndido e punho fechado. Logo uma chusma de jornais informou que se tratava da "saudação nazi", vindo de imediato logo um conjunto de bloggers e comentadores contrapôr que se tratava de uma saudação comunista. Na grande discussão que se seguiu, vi referência não só a nazis e a comunistas, mas também a romanos, anarquistas, esquerdistas de vária ordem, templários, etc. Fiquei mais ou menos satisfeito com o esclarecimento de que se tratava de uma saudação nacional-bolchevique. É sempre grato encontrar especialistas em saudações que nos saciem as nossas dúvidas mais prementes. Em Bizâncio também os devia haver.


Entretanto, no país vizinho, e não só, rebentou o escândalo: Juan Carlos, Rei de espanha pela Graça de Deus e aprovação referendária da constituição, partiu uma anca numa caçada aos elefantes em África. A indignação não tinha tanto que ver com os gastos da aventura, que foram pagos por um qualquer amigo árabe, numa altura em que o Reino de Espanha está sob ameaça dos juros e se pede contenção e austeridade, mas mais com a sua natureza, ou seja, ser uma caçada, contra elefantes, pelo Rei. Um acto legal (no Botswana tem o seu carácter ecológico, pelo perigo de aumento do número de elefantes, que a prazo se torna perigoso), de carácter controverso e subjectivo, tem levantado uma vozearia contra o Rei, aproveitando-se os meios anti-monárquicos para denunciar o acto "criminoso" e "contra os direitos humanos" (os elefantes são agora detentores de "direitos humanos"). Juan Carlos pediu entretanto desculpa. Alguns aceitaram e acalmaram-se, outros não, protestando contra a "hipocrisia", esse termo que se tornou no pior dos pecados, embora em boa verdade não haja quem não o pratique. Ou seja, o "crime" estará em caçar elefantes  - e pelo que ouvi, se fossem animais de menor porte, a indignação seria menor - não na exuberância do gasto em tempos de sacrifício. Dá-me ideia que se África Minha fosse rodado nos dias de hoje, a personagem do caçador de Robert Redford teria de mudar de profissão para, sei lá, "agricultor biológico".

Entretanto, na Síria prossegue a mortandade, os líbios dividem-se, o Sudão ameaçar invadir o seu novo vizinho do Sul, os islamitas da nigéria atacam igrejas à bomba, os talibans fazem o que querem no Afeganistão, a crise do Euro agrava-se uma vez mais.
Em Bizâncio, perdão, Constantinopla, também se divertiam muito com questões teóricas, sem dúvida muito interessantes e intrincadas, até descobrirem que os turcos estavam às portas da capital com intenção de a fazerem sua.

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