O bizarro adiamento do Benfica-Sporting talvez tenha permitido evitar males maiores, mas a verdade é que a queda maciça de lã de rocha, ou como se chamava aquele material que muitos pensaram inicialmente ser detritos trazidos pelo vento (e de que toda a gente fala como se fosse da vida corrente) transtornou a vida a muita gente, incluindo muitos que se deslocaram centenas de quilómetros e sobretudo o autor destas linhas, que saiu de casa de propósito em tarde de temporal para ver o dérbi.
Embaraça-me ver o grandioso estádio da Luz, que devia ser um modelo de excelência, sofrer problemas deste calibre, mesmo com o desconto da ventania que se fazia sentir em todo o país, e em particular em Lisboa, onde áquela hora atingiu os cem kms por hora. Ver pedaços de lã a voar e placas de metal a cair nas bancadas não é aceitável. De qualquer forma, parece que o jogo se realizará mesmo sem mais problemas, e quanto aos delegados da UEFA que vieram fazer inspecções para a final da Liga dos Campeõs, não me parece que escrevam um relatório muito tenebroso: afinal, a evacuação de mais de sessenta mil espectadores decorreu em poucos minutos e sem problemas, além de que em Maio, altura da final, não costuma haver ventos ciclónicos e situações climatéricas difíceis como no Domingo.
Mas críticas e remoques que se ouviram, sobretudo da parte de alguns sportinguistas ufanos da temporada que a equipa em vindo a fazer (embora só esteja presente numa competição) recordaram-me episódios de irresponsabilidade bem piores quanto a medidas de segurança. Um deles já data de há mais de vinte anos, mas muitos ainda se devem lembrar: o caso da pala de Alvalade. A cobertura datava da construção do estádios, nos anos 50, e um parecer técnico do LNEC (a mesma entidade que o Sporting queria que fizesse uma vistoria à cobertura da Luz), tendo detectado falhas estruturais, determinou a interdição daquela bancada e a remoção da pala. A secretaria de estado da Cultura, com Santana Lopes à frente, decidiu que o espaço teria de ficar suspenso até nova decisão. O sporting protestou e chamou o veterano Edgar Cardoso, um dos autores da obra, que passeando e saltando por cima da pala, afirmou que aquilo era seguríssimo e que não havia qualquer problema. Imediatamente se levantou a suspensão (em vésperas de um importante concerto rock programado para quele estádio), fizeram-se umas pequenas obras de melhoramento e não se pensou mais no caso, até à efectiva demolição do estádio, mais de dez anos depois. Só uma pessoa protestou contra o desfecho do caso: Maria José nogueira Pinto, que era Subsecretária de Estado da Cultura, e que, sentindo-se desautorizada e achando que tudo aquilo era uma insensatez, pediu a demissão.
Como se vê, a irresponsabilidade dos clubes de futebol tem antecedentes que felizmente não tiveram piores consequências. E atingem mesmo as melhores famílias, perdão, clubes.
Esperemos que o jogo não tenha problemas, e que se possível, o Benfica ganhe.
PS: ganhou e convenceu. Aquele golo do Enzo levanta qualquer estádio. Duvida-se que algum dos imberbes e amedrontados jogadores do Sporting conseguisse marcar um assim.
PS: ganhou e convenceu. Aquele golo do Enzo levanta qualquer estádio. Duvida-se que algum dos imberbes e amedrontados jogadores do Sporting conseguisse marcar um assim.
Um comentário:
"veterano Edgar Cardoso, um dos autores da obra, que passeando e saltando por cima da pala, afirmou que aquilo era seguríssimo e que não havia qualquer problema"
Que maravilha....
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