segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Já se esqueceram da Ucrânia?


Por falar na Europa e na UE, dir-se-ia que depois de dias de intensa cobertura jornalística a paz voltou a reinar na Ucrânia. Então e o braço de ferro entre Ianukovitch e os amotinados comandados por Klitschko e o seu partido, apropriadamente chamado Udar ("murro")? E as barricadas, desapareceram? Já se limparam as praças de Kiev? E os edifícios públicos tomados pelos revoltosos, já foram desocupados? A Rússia e o ocidente já chegaram a acordo sobre quem vai "influenciar" mais a Ucrânia? Ou será Rússia e EUA, já que para a diplomacia americana, e a julgar por um telefonema "informal" e privado da subsecretária de estado, a UE não conta?

É mais um dos assuntos que durante dias abre os telejornais e depois volta a cair no esquecimento ou a passar para as colunas mais escondidas das secções internacionais da imprensa. E no entanto devia preocupar toda a gente. O país está na linha de fractura da zona de influência União Europeia-Rússia, que a disputam como abutres sobre a carne morta. É vítima de chantagens, aliciamentos, experiências. Os russos não vão querer largar esta presa, antiga fatia de grande importância do seu território, que perderam com o estilhaçamento da URSS por culpa do seu plano chico-esperto em criar uma república autónoma que tivesse assento na ONU, ganhando assim mais um lugar. Os Estados unidos e a UE, com a Alemanha à cabeça, pensam cercar a Rússia e ganhar ali novo posto avançado em direcção à Ásia.


É difícil tomar partido por qualquer dos blocos, mesmo que de um lado pareça estar o bloco democrático e do outro um velho império autoritário, sustentado em gás natural. A parte oeste da Ucrânia, que em tempos constava do Império Austro-Húngaro, e Kiev estão vigorosamente do lado ocidental. Mas a parte leste, a bacia do Don e a Crimeia, lideradas pelos grupos de Donetsk, preferem o apelo da Rússia. São as duas Ucrânias que se enfrentam, a ocidental e a russa agora nas ruas, completamente divididas politicamente. A ironia trágica é que as duas principais potências que a disputam, a Alemanha e a Rússia, foram precisamente as que lhe trouxeram as maiores atrocidades no último século: os soviéticos nos anos vinte e trinta, nos quais milhões morreram de fome ou massacrados, os nazis nos anos quarenta, quando impuseram a sua brutalidade no avanço da Operação Barbarossa. Os ucranianos deviam fugir deles a sete pés, mas entalados que estão, só lhes resta ver qual a facção que vencerá, se é que tudo não passa de ciclos sucessivos e rotativos, em que ora ganha uma, ora ganha outra.

Um comentário:

Anônimo disse...

Genial...