quinta-feira, junho 17, 2004

Posts sobre os dias que passam

Pronto. Finalmente Portugal conseguiu uma vitória no seu Euro, contra uma Rússia nostálgica de Yashin e Dassaev, embora Ovchinikov mereça o maior respeito, sobretudo depois da sua injusta expulsão de hoje. Scolari mudou a equipa e bem. Percebeu enfim o que toda a gente já sabia: que Ricardo Carvalho está a anos-luz de Couto (cujo destino, diz-se, é precisamente a Luz), que Deco é um jogador para jogar de início e Rui Costa serve para entrar na segunda parte, mais fresco (e hoje terá mostrado aos detratores que ainda tem uns trunfos na manga), bem como Ronaldo, mas por razões diametralmente opostas.
Só que este triunfo não vem por si só resolver todos os males do mundo. Portugal venceu uma equipa russa desfalcadíssima na defesa, que a meio do jogo ficou reduzida a dez elementos, marcou o segundo golo já no fim (belíssima jogada, aliás)e mostrou, sobretudo na segunda parte,uma incapacidade concretizadora (por onde andas, Pauleta?)e um entorpecimento que só o miúdo-prodígio conseguiu travar, mas que não prenuncia nada de bom perante a "Fúria" espanhola. Que hoje empatou a um golo com os "Olímpicos", perante um Bessa a estourar e o próprio Rei de Espanha na assistência. Ao menos o empate permitiu que no regresso a Madrid não houvesse qualquer tipo de diferendo com a Rainha Sofia da GRÈCIA.
O que é certo é que o jogo deu um imenso colorido à zona da Boavista, onde moro. No terreno contíguo estacionaram numerosos autocarros. Na imensa avenida passaram espanhóis de Madrid, Barcelona, Galiza (Rias Baxas e Altas), Cuenca, Badajoz, de todos as cidades e pueblos; não faltaram ainda inúmeros gregos, alemães de Hamburgo, Ulm e Dresden (reconhecíveis com a camisola do Dínamo local), que apoiavam a Grécia, holandeses, dinamarqueses, suecos, ingleses, italianos, até mesmo romenos, e imagine-se, portugueses!
Já anteontem a Dinamarca e Itália deram um show de bola, sobretudo os respectivos "keepers", o sucesor-de-Schmeickel Sorensen e o já conceituado Buffon, o "Maradona das redes". Os suecos quiseram ser os mais concretizadores dos vikings e aplicaram chapa cinco a uma inexperiente Bulgária, onde se destacou um esquerdino de nome Petrov (de qualquer forma, apelido de metade da equipa), e que ou muito me engano ou vai ser um equipa quebra-cabeças daqui a dois-três anos. Mas o jogo valeu pelo fulgor ofensivo dos nórdicos e pelo regresso do magnífico e letal Larsson, que continua a ser um matador por excelência. O jogo Itália-Suécia promete.
Ontem, o mítico confronto Holanda-Alemanha saldou-se por uma igualdade entre uma equipa com um leque de atacantes inimaginável e outra que, não tendo tantas estrelas, vale como um colectivo sólido e fiável. A ter em conta. De realçar que estavam no Porto bem mais holandeses que alemães, um fenómeno que nem os próprios germânicos (muitos com camisolas do velho Mönchengladbach) souberam explicar. Já a Letónia ameaçou, mas a experiência dos checos acabou por prevalecer. Atente-se ao primeiro golo dos boémios, fruto de um centro de Poborsky, depois de uma jogada com fintas absolutamente magistrais, em que o ex-jogador do Benfica mostrou que ainda é igual a si próprio.

Saíndo um pouco do tema futebol, e aproveitando o facto de se ter falado da Família Real Espanhola, noto com pesar que a conviva que me tinha atraído a atenção na casamento dos príncipes é já considerada a "solteira mais desejada de Espanha", sobretudo depois de ter confirmado que não tinha noivo. O que significa uma feroz e numerosa concorrência, e bem assim um aborrecimento suplementar. Mas o frémito da luta é sempre bem-vindo, apesar da quantidade e peso dos outros candidatos!

Tudo se disse, depois do Portugal-Grécia de outro dia. Mas há coisas que não podem passar em claro. Veio um senhor, no Público de ontem, afirmar solenemente que ao contrário da Grécia "Portugal nunca teve heróis, mas chicos-espertos". Ora eu respeito imensamente a Grécia (tanto que até me inspirou no nome deste blog) e os seus Mitos, dos quais sou um fanático estudioso. Acontece que Ulisses, Aquiles, Jasão, Perseu ou Teseu são só isso mesmo (já Agamémnon nem tanto, e Alexandre ou Leónidas foram bem reais); ao passo que homens como os Gamas, Albuquerques, o Condestável, Camões, Afonso Henriques ou até os recentes Mouzinho da Silveira e Serpa Pinto foram heróis na verdadeira acepção da palavra, de tal forma que formaram os seus próprios mitos, que perduraram até hoje no imaginário lusitano, para além de outras figuras lendárias, como o Adamastor, o Velho do Restelo ou o Desejado/Encoberto. Na Índia, por exemplo, o nome de Afonso de Albuquerque ainda impõe respeito aos indígenas, e é um facto que prova a perenidade destes homens.
O chamar-lhes "chicos-espertos" mostra ou ignorância, ou encobrimento da história, ou ainda uma snobeira desdenhosa de Portugal, do tipo "o que vem lá de fora é que é bom". Ou até as três coisas, não sei...

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