terça-feira, novembro 15, 2005

The Constant Gardener

Eis um forte concorrente a filme do ano: The Constant Gardener, O Fiel Jardineiro, obra de John Le Carré agora adoptada ao cinema por Fernando Meirelles, realizador que ganhou o reconhecimento internacional com o muito aclamado Cidade de Deus. Já o esperava há umas semanas, e o que vi há dias não me decepcionou.
Talvez tenha sido antes surpreendido pela crueza de certas situações. Não é, evidentemente, um filme para relaxar, nem para se levar a avó ou o filho de dez anos. Não. A violência, a pobreza extrema, a tremenda desigualdade social, a corrupção a nível governamental tudo o que caracteriza a miséria de África está lá. Uma miséria que não dispensa todavia a cor e a abnegação, mas que é acentuada pelas maquinações que dão origem à trama.
A história, é já conhecida: o pacato diplomata que se dedica à jardinagem, a sua incansável mulher e a sua militância contra as experiências farmacéuticas, o que lhe custa a vida ( e a do seu amigo médico), a revolta que assalta o marido apanhado de surpresa, etc. A mudança brusca no carácter do protagonista Justin Quayle converte-o num novo homem, capaz de interrogar tudo e todos, de se deslocar entre Nairobi e Londres, Berlim e o Sudão (já não os Estados Unidos, como no livro) para descobrir os reais motivos que levaram à morte da sua mulher. Por trás da história de espionagem/interesses obscuros tão comum em Le Carré surge também uma história de amor, de um amor quase póstumo e deseperado.
O Travelling de Meirelles é constante. Não há muitos momentos para respirar durante o filme. a fotografia, essa, é pouco menos que fabulosa. Em relação às interpretações, só tenho a dizer que de Ralph Fiennes, um dos meus actores favoritos e um dos grandes representantes da arte de representar britânica, espero sempre o melhor, e mais uma vez não me desiludiu. Como disse uma qualquer crítica da imprensa, no seu olhar imóvel quando toma conhecimento da morte de Tessa, perpassa uma quantidade enorme de sentimentos em catadupa, quase ao mesmo tempo. Rachel Weisz surpreendeu-me muito, com um registo mais maduro do que o habitual com bastante sobriedade, o que é notável para quem está na pele de uma activista particularmente emotiva e algo desbocada.
Por razões compreensíveis, o filme lembra-me outras duas opus : o já referido Cidade de Deus e O Paciente Inglês, provavelmente por rever Fiennes, com ar perdido, apaixonado e desorientado, errando pelo deserto. Até ao terrível mas comovente epílogo, na paisagem desolada mas irreal do lago Turkana.
O filme continua em exibição. Vão ver, se não estiverem numa de relaxar, pensando que embora não se retrate uma situação real, coisas daquelas deverão suceder com toda a certeza em África. E não desviem os olhos do ecrã. Admirem uma obra arrojada, dramática, tortuosa. E belíssima.

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