quarta-feira, março 31, 2010

O miserável caso Hulk

Fico espantado ao ver a indignação da redução da pena de Hulk de 3 meses para 3 jogos. Não pelas lacunas jurídicas que deram origem a toda esta confusão, mas sim pela martirizarão que quase fazem do jogador, e pelas culpas inteiramente atribuídas ao conselho Desportivo da Liga.

Ao contrário do que tem sido voz corrente, Ricardo Costa parece-me das poucas pessoas ligadas ao futebol que realmente pretende fazer um trabalho com isenção e cumprimento das regras. Caiu obviamente nalgum protagonismo de TV, mas tirando isso pouco lhe pode ser assacado.
O episódio Hulk é a prova disso mesmo. Perante uma lacuna normativa quanto ao estatuto dos stewards, o Conselho Disciplinar da Liga, por si presidido, usou as ferramentas jurídicas básicas para a colmatar, através do recurso à analogia. E em casos semelhantes, a decisão fora sempre a de considerar que o atingido era um interveniente ao jogo. Podia-se certamente ficar com dúvidas quanto às funções desempenhadas por estes elementos; o que não se poderia fazer nunca seria considerá-los como "público", ou seja, como sujeitos pagantes para ver o espectáculo. O CJ da Federação teve essa brilhante ideia, num acórdão em que confessou que "tinha dúvidas quanto a essa classificação" e em que considerou que "o CD da Liga teve legitimidade na decisão que tomou". Uma decisão atabalhoada e contrária a outras em casos análogos, o que provocou a demissão abrupta de Hermínio Loureiro da Presidência da Liga de Clubes.


Claro que estas incoerências não interessam aos defensores do jogador, a começar pelos responsáveis portistas, que depois de considerarem que ele se tinha defendido "como qualquer pai de família", resolveram pedir a módica quantia de 17,5 milhões de Euros pela decisão da Liga. não percebo o fundamento, já que a própria FPF reitera a legitimidade da liga na sua decisão; haveria ainda umas quantas razões para considerar tal pedido um absurdo (como o de que Hulk não resolve todos os jogos só por si, longe disso, e que jogou nos 5-0 que o FCP sofreu em Londres), mas a maior de todas, a par da legitimidade da Liga, é esta: Hulk esteve suspenso desde o jogo em que andou a distribuir murros até à decisão final da punição porque no ano passado a Liga aprovou, em Assembleia Geral, a regra da suspensão provisória até à decisão por proposta do...FCPorto. Se se tratam dos mesmos responsáveis que agora querem aquela brutalidade, estamos conversados quanto ao seu valor.


Quer a maralha futeboleira, e em particular a que vê em Pinto da Costa um semi-Deus infalível, nada queria saber disso e ache muito bem um jogador da suas cores andar ao murro é coisa que não surpreende. O mesmo não se deveria dizer de outros que têm mais conhecimento da matéria. E no fim, como se adivinha, queima-se quem tem qualidade técnica e poderia mudar alguma coisa no seio do futebol, como Ricardo Costa, cujas ilusões iniciais de trazer ar fresco se terão certamente esfumado, e mantêm-se os palradores e incendiários de sempre, neste dirigismo miserável.

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