A época futebolística (de clubes, que ainda falta o Europeu) não acabou da melhor forma segundo os humores de A Ágora. Desde logo, a derrapagem do Benfica desde Fevereiro, fazendo com que o título escorregasse para as mãos de uma equipa treinada por um técnico de regionais. As arbitragens apontadas por dirigentes e jogadores do Benfica ajudam a explicar, mas só por si são redutoras. a incapacidade de Jorge Jesus de gerir e dar ânimo ao plantel quando era mais necessário, as lesões que nos tiraram os quatro centrais de uma só vez, a evidente displicência nas últimas jornadas e a sobrecarga de jogos são razões mais do que suficientes para que um excelente plantel não tivesse ficado com o título. E os protestos dos adeptos são perfeitamente compreensíveis. Jesus passou o prazo de validade, mas infelizmente vai ficar mais um ano, graças à indemnização que lhe seria devida por mercê do contrato facultado por Luís Filipe Vieira, que depois de nove anos de presidência também podia dedicar-se a outras actividades e ceder a cadeira.
Mas as tristezas da bola não se resumiram só ao Benfica. A UEFA decidiu-se entre clubes de Espanha, o Athletic de Bilbao e a agremiação que já foi sua sucursal, o Atlético de Madrid. É claro que aqui se torcia pelos de Bilbao, que além de representarem um clube mítico e único, fizeram uma carreira formidável até à final. Teria sido fantástico ver os bascos comemorarem o seu primeiro título desde 1984 (e o primeiro internacional), à volta do Urbion e do Guggenheim, mas infelizmente Falcao estava numa noite de brilho imparável, o árbitro esqueceu-se de marcar uma grande penalidade a favor dos bascos e até Diego resolveu mostrar logo hoje o talento que na maior parte dos jogos resolve esconder. O Atlético revalidou a taça que tinha ganho há dois anos (então com uma sorte inaudita), e os bravos de Bilbao entraram para a galeria das equipas talentosas a que a Fortuna virou costas quando mais precisavam. O clube e o técnico Marcelo Bielsa mereciam bem mais.
Outros que não tiveram sorte foram os bávaros. Perderam o campeonato e a taça para um Dortmund mais "operário" (ou não fosse uma equipa de região de metalúrgicos), e com justiça. Mas percebia-se que a ambição do Bayern era mesmo ganhar a Liga dos campeões perante o seu público, no belíssimo Allianz Arena. A eliminação do Real Madrid dava-lhes ainda mais favoritismo, e a oportunidade era única, depois da final perdida de há dois anos. Do outro lado, o Chelsea, uma equipa por quem há uns meses ninguém daria nada, mas que desde a saída de André Villas-Boas tem mostrou-se insuperável nos jogos a eliminar. Já tinha ganho a Taça de Inglaterra. Na Liga dos Campeões, deu a volta à derrota com o Nápoles, e como se sabe, venceu com enorme dificuldade e sorte, e alguma ajuda do apito, um Benfica que nunca se mostrou inferior, mesmo em inferioridade numérica. Depois, grande surpresa, a eliminatória impossível com o Barcelona, aproveitando a falta de pontaria dos culés e a boa forma do guarda-redes Cech. Assim chegou à final jogando com a equipa da casa. Fazendo jus à sua cidade, o Chelsea mostrou-se um autêntico autocarro de dois andares, marcou o golo do empate perto do fim, praticamente na única oportunidade que teve, resistiu a uma grande penalidade no prolongamento e ganhou a lotaria dos penaltys, graças a um Cech quase perfeito. Defesa de cattenacio, muita sorte, oportunismo italiano (graças à filosofia de Di Matteo?) e um guarda-redes gigante nas grandes penalidades: eis a receita dos londrinos para ganharem um troféu quando ninguém dava nada por eles. É certo que há ali jogadores com alguma veterania que o mereciam, casos de Drogba e Lampard, ou outros, como o fenomenal David Luiz. Mas para além da raiva que ficou pela forma como eliminaram o Benfica, é sempre penoso ver um clube com uma gestão exemplar e comandado pelas antigas glórias perder frente ao seu público (e em penaltys!) contra outro que só chegou onde chegou por causa das centenas de milhões de euros injectadas pelo seu proprietário, um oligarca russo coleccionador de iates que enriqueceu de forma hiper-duvidosa e que está abaixo de toda a suspeita.
Mas a maior de todas as tristezas não teve a ver directamente com resultados no campo, mas com o desaparecimento de um ex-jogador fenomenal: Rashidi Yekini, o antigo avançado do Vitória de Setúbal. Faz uma certa impressão ver um atleta que era tão posante desaparecer aos 48 anos. Yekini sagrou-se melhor marcador do campeonato nacional em 1994, ano mágico para ele: não só obteve esse troféu pessoal (para o qual contribuíram os golos que marcou ao Benfica numa tarde em que os sadinos venceram por 5-2, embora não tenham impedido a conquista do campeonato no fim dessa época), ajudando à época razoável do Setúbal, bem assistido por Chiquinho Conde, como ainda muito contribuiu para a excelente prestação da Nigéria no Mundial desse ano, nos Estados Unidos. Marcou aliás o primeiro golo da sua selecção num Mundial, comemorando de forma inesquecível. Depois do Vitória, transferiu-se para o Olympiacos, e daí para Espanha e outros países, com um breve regresso a Setúbal, já no declínio da carreira. Deixou a ideia de que passou ao lado de uma melhor carreira em clubes (que não na selecção nigeriana), talvez por ter passado demasiados anos à beira-Sado, e por posteriores escolhas erradas. Falou-se na sua possível ida para o Benfica. Talvez na Luz tivesse alcançado outra visibilidade. Teria sido fantástico ver aquela enorme força da natureza marcar golos de águia ao peito. Ainda assim, deixou-nos boas recordações.
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