quarta-feira, novembro 11, 2020

Gonçalo Ribeiro Telles 1922 - 2020

Uma notícia não inesperada mas muito triste. Deixou-nos Gonçalo Ribeiro Telles. Já tinham anunciado estupida e apressadamente a sua morte, há uns tempos, mas como aconteceu com Mark Twain, a notícia era manifestamente exagerada. Falamos de uma figura maior do nosso país, com quem infelizmente estive vezes de menos. Do arquitecto paisagista que ganhou o prémio internacional mais importante da área (o Sir Geoffrey Jellicoe). Do homem que reorganizou o movimento monárquico e ecologista depois do 25 de Abril, fundando o PPM - partido monárquico, ruralista e verdadeiramente o primeiro partido ecologista português, muito antes do PAN e bem mais substantivo que os Verdes - e na continuidade o MPT, com alguns ex-PPM e do Movimento Alfacinha. que foram precisamente os partidos em que votei quando finalmente ganhei esse direito.

 
Ribeiro Telles era o último líder vivo da AD e curiosamente o mais velho. Exerceu o cargo de Ministro da Qualidade de Vida no segundo governo da coligação e criou a RAN, a REN e os PDMs. Concorreu à câmara de Lisboa pelo PPM, no meio de inúmeras candidaturas, e conseguiu ser eleito vereador. Lisboa deve-lhe o corredor verde de Monsanto, os jardins da Gulbenkian e o jardim Amália Rodrigues, atrás do parque Eduardo VII, entre outros. Defendia conceitos recebidos no início com estranheza pelos puramente citadinos, como as hortas municipais e a necessidade absoluta das cidades combinarem zonas de cultivo e zonas verdes com o emaranhado urbano. Defendia também uma regionalização natural, seguindo as muitas regiões naturais de Portugal, desconhecidas da esmagadora maioria, para além do traçado político e burocrático. As suas ideias levaram muito tempo a ser adoptadas, mas aos poucos começaram a ser implementadas.
 
É esse legado que, embora tarde e a más horas, lhe fará justiça e que o seu nome e projectos sejam preservados. Cabe-nos construir um Portugal seguindo as boas e urgentes ideias que Gonçalo Ribeiro Telles generosamente lhe deixou. O país perdeu hoje um dos mais ilustres portugueses. Eu perdi uma das minhas maiores referências cívicas e políticas.



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