domingo, julho 31, 2005

Farto

Há uma coisa de que sinceramente estou farto: dos constantes e eternos pessimismos com que dia a dia nos martirizam os tímpanos. Sempre que abro a secção "Diz-se" do Público, por exemplo, apanho logo com meia dúzia de queixumes e afirmações semi-apocalípticas: Portugal não tem emenda, o país é inviável, caminhamos para o fim (ou para o desastre), etc, etc, etc. Já ouvi mesmo alguns colunistas dizer que "Portugal atravessa a maior crise da sua história" - fazendo tábua rasa de oitocentos anos em que tivemos reconquistas, interregnos, revoluções, guerras civis, terramotos e até perdas temporárias da independência.
Seria muito fácil exemplificar logo com Vasco Pulido Valente, mas nem é preciso ir tão longe. Um dos culpados disto é Pacheco Pereira; começou a usar a expressão "pobre país o nosso" e logo um monte de seguidores passou a usá-la como lema. Dos mais insistente saliento um comentador do Blasfémias, que assina anti-comuna, e que depois de umas quantas linhas a verberar o poder político (quase sempre o actual governo, mas justificando o de Santana) e a concordar com cada palavra escrita pelo campeão liberal João Miranda, acaba sempre com o mesmo lamento :"pobre país o nosso! Quem nos acode, quem nos acode?". Há muitos outros, como é óbvio, mas este é um dos mais flagrantes exemplos do choradinho-pessimista nacional; o caso é tanto mais estranho se pensarmos que se está a defender a total iniciativa privada no início, e logo a seguir se começa a pedir socorro a um qualquer salvador imaginário.
Se há defeito que os portugueses têm, mais do que qualquer outro, é o de passarem o tempo a criticar o país. Ora, se o país é criticável, deve-se aos próprios críticos, e a mais ninguém. Mas desde os tempos do nosso Eça e da "choldra"(pelo menos, porque esse hábito já deve vir mais de trás) que é de bom tom bater no país.
Não sou sociólogo e muito menos economista, mas suspeito que haja razões históricas por trás de tanta frustração. A memória da gloriosa saga dos descobrimentos continua sempre presente. Só que considerar Portugal uma superpotência é não ter a noção das coisas. Passa-se o tempo a fazer comparações com os outros, começando por Espanha e acabando na Grécia. Para quem não se deu conta, Espanha tem o quáduplo da população, o quíntuplo do território e uma fronteira com França, o que sempre a torna menos periférica. Sim, eu sei que estamos na cauda da Europa em quase todos os índices de desenvolvimento humano. Mas isso não é razão para se dizer que estamos no "Terceiro Mundo". Temos um povo na sua maioria iletrado e sem qualificações, uma classe política duvidosa, uma administração pública pesada e uma economia dependente. Mas quase todos têm telemóvel, casa própria e automóvel (eu por acaso não). Claro que podemos falar sempre no excessivo recurso ao crédito, mas isso é outra história. E não temos guerras, nem fome generalizada, epidemias graves ou uma criminalidade assustadora. Alguém que chegue do Níger, do Bangladesh ou do Afeganistão e ouça um dos comentadores do costume dizer que "somos um país do Terceiro Mundo" (onde com certeza nunca esteve) tem todas as razões para se sentir ofendido e aviltado. O nosso défice pode estar num nível alto, mas a água é potável e não faltam hospitais, escolas e auto-estradas. Nem telemóveis.
É por isso que estou francamente farto de torpes comentários dos pífios críticos que nos cercam. Tanto queixume é doentio, e se o país não é melhor e há falta de iniciativa também se deve a eles. Portugal pode estar estagnado, acomodado, ultrapassado, mas não é por isso que vai acabar, por muito que seja essa a opinião dos seguidores de Pulido Valente & Cia. E aposto que há muito de financeiro e económico por aí: se a nossa economia crescesse um bocadinho mais, e as finanças estivessem na milagreira linha dos 3%, já as lamúria seriam mais suaves. E daí talvez não. Não faltariam carpideiras (como o anacrónico e estafado Camilo de Oliveira) a falar da "crise", nem que isso significasse a subida do preço do Kilo da hortaliça.

(Para desanuviar um pouco, fica aqui a seguinte questão: porque será que o PS, para a câmara da Póvoa do Varzim, terá resolvido candidatar o apresentador José Carlos Malato?



Eis uma questão a pôr ao MFC)

2 comentários:

Anônimo disse...

O Comércio do Porto ainda vive. Leiam-nos em ocomerciodoporto.blogspot.com

Anônimo disse...

João Pedro, já te responderam do tal Anderson que você perguntou?
Se não, é um zagueiro do Corinthians.. mediano..