quinta-feira, maio 25, 2006

Punk Cabaret Show

Há coisa de uns dois anos encontrei nas prateleiras da FNAC uns discos com um estranho par na capa, com a cara pintada de branco, à Mimo, e uns trajes de época. Pelo nome do duo pensei logo que fossem alemães. Ouvi um pouco da música deles, que me soou entre a pop infantil, rock inclassificável e teatralidade de cabaret. Estranheza e um pouco de enlevo foram as sensações do momento. Ao contrário do que pensava, não eram alemães, mas americanos, de Boston.

E só desse lado do Atlântico, a uns bons quilómetros a Oeste de Boston, nas margens geladas do Michigan, é que adquiri enfim o disco homónimo dos Dresden Dolls. Fi-lo não só porque até aí ainda andava desconfiado da sua música mas também porque o preço era substancialmente menor, o que diminuía o risco da compra. Só algum tempo depois do regresso à pátria é que me dispus a ouvir o resultado do "brechtian punk cabaret" de Amanda Palmer e Brian Viglione. Uma música que não é para qualquer altura, mas que ouvida com a disposição e o despreendimento necessários tem laivos de incandescência e estupefaciência. Ao vivo deviam ser um espectáculo digno de nota, se algum dia me cruzasse com eles.


Pois assim sucedeu. O duo passou por Portugal, on tour, para promover o segundo trabalho, que ainda não tinha ouvido. Mais precisamente em Famalicão. A escolha do local pode soar estranha, mas faz todo o sentido. A pequena cidade industrial, da qual só me lembrava da câmara municipal com uma espécie de campanário de granito e de uma rotunda com a estátua de Bernardino Machado, cresceu a olhos vistos, e não apenas em edifícios. Uma zona que há trinta anos era uma miséria cultural tem agora a famosa Casa das Artes, um edifício amplo e de linhas sóbrias, no meio de um parque, com um cartaz de espectáculos respeitável (e tem também algumas editoras, não esquecer). Os Dolls actuavam no âmbito do aniversário da Casa, e diga-se que foi uma escolha acertada. Depois da primeira parte ser preenchida com Thomas Truax, a sua guitarra e o seu Hornicator, e que provocou momentos hilariantes, com o músico a atravessar as coxias e a surpreender alguns espectadores que entravam na sala, o duo surgiu enfim. Não defraudaram o as esperanças, embora tivessem menos maquilhagem do que o costume. conservando no entanto as muito emblemáticas meias de riscas horizontais. Passaram o seu repertório quase todo, dos dois álbuns, como a mais conhecida Coin Operated Boy, mostrando a teatralidade do costume e a voz invulgar, com tons loucamente variáveis, de Palmer. Ainda houve tempo para alguns semi-diálogos entre eles e com o público, e para uma canção de Jaques Brel, no francês original, por escolha democrática.

Depois de inúmeros agradecimentos e de recomendações ao restaurante ao lado do auditório, abriram garrafas de vinho, serviram um bolo e posaram para fotografias, sem esquecer os costumeiros autógrafos. Um espectáculo de semi-cabaret terminado com o encontro entre os artistas e os seus fãs. E Miss Palmer esteve inexcedível a responder a perguntas sobre a banda e as suas inspirações, como as que me lembrei de lhe perguntar apesar do seu ar cansado mas próprio de missão cumprida.

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