Quatro meses volvidos, e quando já se pensava que os Media estavam enfim a levantar o acampamento para pregar noutra freguesia, eis que se dá a reviravolta no caso Madeleine McCann. As suspeitas sobre a morte da menina e a possível culpabilidade dos pais trouxeram de novo esta enigmática história para a ribalta e despertaram as mais díspares imaginações.
Devo dizer que nunca estive grandemente interessado em toda esta história, apesar de todo o arraial de jornalistas, directos, informações, contra-informações e "biografias" da família. Um desaparecimento de uma criança é algo terrível, mas que infelizmente não é tão invulgar como devia ser, talvez por causa da sociedade excessivamente informada que temos. Por variadas razões, o caso tomou dimensões globais, os noticiários fizeram reportagens e "especiais" de quase uma hora, na maioria das vezes com palha. Espalharam-se cartazes por tudo quanto é aeroporto e serviço de transportes. Tudo isto farta uma pessoa até À medula, mas o que é certo é que o caso alimenta a comunicação social de todo o mundo. Num destes dias, passei por uma banca com abundante imprensa internacional: a maior parte dos títulos dizia respeito às suspeitas que recaíam nos pais da miúda, com grandes fotografias e títulos bombásticos.
Esta suspeita, que para já, e para a "opinião pública", não passa disso mesmo, se se confirmar, terá consequências graves. Não apenas por causa do eventual logro, que envolveria uma campanha a nível mundial, rezas e missas, uma enorme operação de investigação, visitas ao Papa e a um conjunto de capitais europeias, etc. Tornar-se-á também na evidência, apreendida em público, de que algumas crianças nem com os pais, que deviam ser o último reduto de protecção, estão em segurança, e que há gente que tudo faz para encobrir as suas responsabilidades, nem que para isso tenha de enganar todo o planeta. Instalaria um clima de suspeita e desconfiança colectivo e global. e desvalorizaria outros desparecimentos de crianças, casos de maus tratos e pedofilia.
Tenho a maior pena pelos pais que de algum modo perdem os seus filhos; deve ser a coisa mais dolorosa e anti-natural que imaginar se possa. Mas neste caso, e por todas as razões, espero sinceramente que os culpados do desaparecimento de Madeleine, morta ou viva, sejam outros que não os seus próprios progenitores.
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