quinta-feira, abril 11, 2013

O adeus esperado de Thatcher

 
 
Os jornais dos últimos dias, como era esperado, deram destaque à morte de Margaret Thatcher (que também não surpreendeu, dado o estado de saúde era menos de ferro do que a Dama tinha sido). O desaparecimento de uma das figuras-chave dos anos oitenta, senão das últimas décadas, de um dos últimos grandes líderes europeus, não podia passar despercebida. Até porque, apesar de há já muito estar retirada do espaço público, nunca passou ao esquecimento. Todos os seus sucessores foram condicionados pelos seus anos de governo, e no ano passado voltou mesmo aos escaparates dos jornais com o filme-biopic que deu o Óscar de Melhor Actriz a Meryl Streep, na sua superior interpretação da Primeira-Ministra britânica.

Thatcher estava longe de ser das minhas figuras preferidas. Mas ser popular ou amada não lhe dizia nada. Até é crível que, pelo seu gosto pelo confronto, preferisse os apupos e às manifestações sindicais e da oposição trabalhista (liderada por Michael Foot, que estava tão à esquerda como ela estava à direita), sinal de que a sua política tinha sucesso. A uns ignorou, a outros venceu frequentemente nos Comuns. O choque ideológico, as discussões, a capacidade de comando estavam-lhe no sangue. Na cabeça, trazia as ideias de Hayek e uma vontade de gerir a Grã-Bretanha como uma mercearia, contra os "inimigos internos", sobretudo os sindicatos, que em fins dos anos setenta faziam o que queriam do país, levando-o à estagnação e à ruína. Thatcher aplicou as suas políticas de choque, a que podemos chamar com alguma propriedade de neoliberalismo, com resultados controversos: por um lado criou uma nova classe de pequenos empresários, fomentou o sector terciário, tornou a City londrina numa grande praça financeira; por outro arruinou a indústria e os sectores mineiros que fizeram a Revolução Industrial, com o crescimento do desemprego, da mendicidade e da criminalidade. Era popular no Sul e impopular no Norte e no Merseyside. Pelo meio afrontou a Europa e no caso das Malvinas impôs uma derrota humilhante à clique militar argentina, levando à sua queda.
 
Pode-se dizer que muito embora o Reino Unido precisasse de um valente tratamento ao estado em que estava em finais de setenta, Thatcher exagerou na dose. Libertou o país de uma doença para lhe trazer outras maleitas. Com isso, era admirada até à idolatria e odiada de morte. Mesmo agora, na sua partida, mais de vinte anos depois de deixar o poder, isso se nota: os defensores querem fazer-lhe um funeral de estado, apenas reservado à Família Real, mesmo contra a sua vontade expressa; os detractores festejaram e dançaram à notícia da sua morte, numa atitude reles mas ilustrativa (em Bristol, por exemplo, onde me recordo de ver, na primeira metade dos anos 90, inúmeros pedintes). Thatcher, líder convicta mas errática, incansável mas implacável, partiu, mas o seu simbolismo e o seu legado ficaram. Mesmo que esteja longe de ser positivo, reconheça-se que era uma figura carismática, com alguma grandeza, e que faz as actuais classes políticas da Europa parecer um bando de gnomos.
 

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