Eusébio da Silva Ferreira repousa no Panteão, como o Parlamento já tinha (unanimemente) votado e o povo clamado. A família deu o consentimento, e um ano depois da sua morte, os restos mortais do "Pantera Negra" foram transladados com pompa e solenidade. Um cortejo prolongado levou-o do discreto cemitério da Luz até Santa Engrácia, Lisboa fora, com paragens no estádio da Luz e no Parque Eduardo VII. Já no seu destino, a cerimónia prosseguiu com discursos oficiais e o hino nacional, na presença das mais altas autoridades do Estado e do desporto.
Nada que Eusébio não merecesse. Afinal de contas, ele é o português mais conhecido do século XX, um homem que veio quase a medo de África e se tornou um símbolo nacional, e que mesmo depois da independência de Moçambique não mais deixou Lisboa. Quem deixou em silêncio os maiores estádios de Espanha e Reino Unido 40 anos decorridos do fim da sua carreira não era um mero futebolista talentoso. Era uma autêntica lenda.
Por isso, Eusébio merece totalmente o Panteão. Bem mais do que outras figuras menores que lá arranjaram lugar. E o remoque de que se tratava de um mero "jogador de futebol" e não um estadista, de um guerreiro ou uma figura "das artes e letras" é absolutamente fútil e preconceituosa. Como se o futebol não pudesse ser de uma estética elevada à arte, ou um seu executante um autêntico artista. Então e que diríamos do bailado, por exemplo?
A minha dúvida prende-se mais com a hipotética vontade do próprio Eusébio, se ele pudesse decidir. É claro que a família consentiu, mas que diria o "imortalizado"? A discussão só se colocou depois da sua morte. Que me lembre, nunca antes se tinha falado disso. E há qualquer coisa de estranho na ideia de o levar para ali. Provavelmente o espírito simples de Eusébio não sentir-se-ia incomodado em repousar entre mármores solenes e figuras altivas e talvez preferisse o cemitério da Luz, bem mais perto do estádio onde a sua vida fazia sentido e onde decorriam os seus dias mesmo depois de encerrada a carreira. Enfim, que repouse em paz e que o recordem sempre.
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