quarta-feira, agosto 17, 2016

António Pedro, cinquenta anos depois da sua partida


Há exactamente 50 anos, a 17 de Agosto de 1966, morria aos 56 anos o artista António Pedro da Costa na sua casa de Moledo do Minho, vítima de asma. António Pedro, como era simplesmente conhecido, nasceu em Cabo Verde, veio para a metrópole aos 4 anos, onde estudou no colégio jesuíta de La Guardia, e depois nas universidades de Coimbra e Lisboa. Nunca concluiu os seus cursos. Era um autodidacta tremendo que não podia ficar agarrado somente a uma área. Esteve ligado ao Nacional Sindicalismo, de Rolão Preto, dirigindo o jornal do movimento, o Revolução, mas rapidamente deixou a política e dedicou-se mais às artes. A todas as artes.

Passou por Paris, Brasil e Londres, privando com figuras gradas das artes e ligando-se a movimentos vanguardistas. Em Portugal criou a primeira galeria de arte, a U.P., e mais tarde envolver-se-ia com o grupo surrealista, com o qual é mais conotado, embora não possa ser colocado apenas nas redomas oníricas do surrealismo. Era pintor, caricaturista, ceramista, encenador, dramaturgo, poeta, contista, ensaísta, etc. Um artista total, um pouco como Almada, com quem também se deu. Incrementou o Teatro Experimental do Porto, e as carreiras de actores que ganhariam nome no palco, como Eunice Muñós e José Viana, ou de pintores, como Vieira da Silva. Por toda a parte, mas sobretudo na região Norte, e em particular no Minho, deixou a sua marca, fosse em programas das RTP (muitos dos quais desapareceram, com o reaproveitamento das suas bobines), em guiões para cinema e curtas-metragens, nos seus contos e poemas, nas casas que projectou, nos azulejos que desenhou (como os que podem ser vistos na garrafeira Baco, em Caminha), no símbolo do Ínsua Clube, que fundou, e que se assemelha ao peixe paleocristão, e nos vestígios do teatro que tentou construir em Moledo, que ficou a meio, popularmente conhecido como "as ruínas", e que hoje em dia alberga um conhecido bar e um auditório com o seu nome. Seria em Moledo que morreria, há 50 anos. E é em Moledo, em Caminha e Viana que a sua memória é recordada por estes dias, em inúmeras e diversificadas iniciativas. Para recordar este talentoso multi-artista e re-divulgar a sua figura, que bem o merece.





Neste pequeno trecho podemos ouvir António Pedro e acompanhar um pouco do seu trajecto, incluindo o testemunho de Joaquim Guardão, ainda vivo, e que tive a honra de conhecer. Há mais, no site da Companha de Dança de Lisboa.

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