quinta-feira, maio 11, 2017

Diferenças e comparações entre os antigos e modernos movimentos políticos franceses


Outro dos factos curiosos nas presidenciais francesas é a percentagem de pessoas mais novas que votaram em Marine Le Pen, o que reduz a pó a ideia de que os "jovens" não votam na direita, ou não têm grande atracção pelos fascismo, etc. Não deixa de espantar que a geração que mais beneficiou do programa Erasmus pretenda agora em boa parte votar nas forças que o querem restringir ou suprimir. E que aqueles que passam o tempo a atacar a globalização o façam através do meio que é o símbolo maior dessa mesma globalização e a sua grande impulsionadora- a internet.

A linguagem que observamos nestes apaniguados de LePen e da maioria das forças populistas de direita que vão fazendo caminho por essa Europa fora é a de uma aparente raiva tudo quanto os rodeia, ou pelo menos áquilo que acham que podem ser os perigos latentes: os muçulmanos (ainda que em grande parte dos casos não conheçam nenhum), as "elites financeiras" e "globalistas", a maçonaria, os gays, o "sistema corrupto", e por vezes, numa revisitação ao velho anti-semitismo, a "finança judaica". Aliás, a linguagem que se observa é tantas vezes semelhante à que se ouvia nos anos trinta, se bem que na maior parte dos casos se substitua judeus por muçulmanos. À conspiração "judaico-maçónica" sucede a conspiração "islamo-globalista", ou derivações parecidas. Num continente há muitas décadas em paz e que tende a perder as suas memórias, com a passagem das gerações que viveram os horrores dos anos 30/40, a vigilância cai, desenterram-se os fantasmas e esquece-se o clima que se viva antes do maior conflito mundial de sempre. Não que a Europa esteja nas mesmas condições, longe disso. Mas alguns sentimentos, sobretudo os mais exacerbados, não andam muito longe.

Justamente, podemos traçar alguns paralelos entre movimentos que existiam  na França dos anos trinta e os de hoje e os seus dirigentes. A Frente Nacional, com outra roupagem, outra linguagem e outros objectivos, é, em muito, devedora do legitimismo que dominou boa parte da direita francesa. Parece longe da Action Française de Charles Maurras, que nos anos trinta era provavelmente a associação política com mais militantes (embora não fosse um partido, até porque era explicitamente antidemocrática), corroborada pela sua agressiva ala juvenil Camelots du Roi, e que inspira outros movimentos actuais, mas no fundo é a legítima herdeira dessa parte da direita - a liberal, ou orleanista, divide-se entre os Republicanos e o partido de François Bayrou, ao passo que a outra família", a bonapartista/gaullista, cabe nos Republicanos e uma pequena parte no movimento de Dupont-Aignan. Era precisamente essa direita legitimista a responsável pelo discurso anti-semita que péssimas implicações deixou depois com o regime de Vichy.
 
Depois dos motins de Fevereiro de 1934, onde por pouco a Action Française e outros movimentos de direita radicais, pré-fascistas ou aparentados, não cometeram um golpe de estado, as esquerdas aliaram-se para fortalecer a sua posição. A SFIO de Leon Bloum, antecessora do Partido Socialista, o partido radical e o partido comunista aliaram-se na Frente Popular, que ganhou as eleições de 1936 e que deixou algumas marcas nunca revertidas, como as férias pagas. O PCF de Thorez e a SFIO eram ferozes adversários pela hegemonia da esquerda, mas ordens expressas do Komintern levaram a que os comunistas aceitassem a aliança para travarem a direita mais radical. Por aí se ficam as semelhanças: como se sabe, o actual líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, recusou apelar ao voto em Macron para travar Marine LePen. Macron não precisou dos seus votos para vencer esmagadoramente, mas é bem provável que a alta abstenção e os votos nulos e brancos se tenham devido ao eleitorado de Mélenchon. Aliás, dá-se como certa a separação entre o PCF e o ex-candidato "insubmisso". Mas fica a grande diferença: o PCF obediente a Estaline cedeu para travar a extrema-direita; a frente de esquerda de Mélenchon não o soube fazer, e embora isso tenha tido resultados nulos, não deixa de ser uma marca vergonhosa no seu currículo político.
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