segunda-feira, fevereiro 03, 2020

O novo líder do CDS


Já lá vão uns dias, mas ainda não tinha falado do congresso do CDS. Sim, também houve do o Livre, com aquelas cenas dignas de dó protagonizadas pela deputada Joacine e o seu irreverssível afastamento do movimento, e haverá o do PSD, que com a reeleição de Rio perdeu algum interesse. Mas o do CDS é o que por ora interessou mais. Pela eleição do novo líder, claro, mas também pelo momento muito particular em que se encontra a direita portuguesa.

O CDS já tinha tido pouco mais de quatro por cento, em tempos de oceanos laranjas, em que o cavaquismo tudo dominava, remetendo o PS para uma dimensão modesta, diminuindo o PCP e fazendo desaparecer o meteoro PRD. O CDS sofreu incrivelmente nesses anos, e nem líderes como Adriano Moreira ou o regressado Freitas do Amaral inverteram a situação, até à chegada de Manuel Monteiro. O ex-líder da Juventude Centrista, com o apoio de jovens turcos do partido, de um ou outro notável e da acutilância de O Independente, dirigido por Paulo Portas, venceu o candidato da continuidade, Basílio Horta, representante da democracía-cristã, e o candidato à parte Lobo Xavier, e deu uma guinada directa para a direita, acrescentando ao partido a sigla PP. Há uma clara semelhança no momento actual: Francisco Rodrigues dos Santos, o "Chicão", apoiado por um exército de jotinhas populares e por algumas figuras do pré-portismo (o próprio Lobo Xavier, Ribeiro e Castro, Bagão Félix), venceu a lista da continuidade, de João Almeida, que representava o "portismo" e o sector "liberal" e o candidato da ala democrata-cristã, Filipe Lobo d´Avila, e as candidaturas menos representativas de Carlos Meira (esse grande vianense, impetuoso mas precipitado, sobretudo com as palavras) e Abel Matos Santos, prometendo nova guinada à direita.

A grande diferença em relação aos anos 1990 é que o PSD já não domina o país, antes pelo contrário, e há nova concorrância à direita (à esquerda também, em comparação com esses anos). O caminho do CDS para a direita já não poderá ser feito sem obstáculos, tendo muitos votos da direita liberal mais virados para a Iniciativa Liberal e os da direita "Correio da Manhã" - ou da taberna, se preferirem - orientados para o Chega. Claro que os votos não têm dono senão os respectivos eleitores, mas a verdade é que há tendências para estas novas formações, sobretudo a segunda, embora não provenham todos da direita. O CDS tem um longo caminho a travar, com muitos espinhos, tendo em conta a diminuição de representatividade e os problemas económicos que atravessa. Se não quiser ser apoucado por estes novos partidos e formar no futuro com o PSD uma alternativa à actual maioria, terá muita pedra para partir. Pode começar por estudar exemplos passados, como a forma como Monteiro - que de resto está de regresso - conseguiu fazer o partido crescer (não há Independente mas o Observador também serve alguns propósitos), ou como Paulo Portas ultrapassou as dificuldades financeiras, fazendo campanha eleitoral nas feiras, que se tornou uma das suas marcas eleitorais. Rodrigues dos Santos tem as suas falanges de jotinhas, um discursos mais conservador e apesar de tudo tem mais "aparelho" do que os novos concorrentes (representantes no PE, câmaras municipais, estruturas locais, etc). Tem mais que obrigação de fazer o partido crescer em relação aos péssimos resultados de Outubro. Caso contrário, o CDS não mais será do que um fantasma político.

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