sexta-feira, setembro 11, 2020

Vicente Jorge Silva

Fiquei surpreso com o desaparecimento de Vicente Jorge Silva. Costumava ler os artigos dele e já me tinha dado conta de que ultimamente rareavam. Provavelmente um dos jornalistas portugueses mais importantes do último meio século - esteve nos dois jornais que mais leio, o Expresso e o Público, que fundou - influenciou-me também por outra razão.

Quando tinha aí 16 anos estive nas manifs contra as globais, uma decisão da então ministra da Educação Manuela Ferreira Leite. Foram milhares e milhares de alunos do liceu a desfilar pelo Porto, qual cortejo da queima das fitas liceal. Recordo-me de ir na parte da frente do ajuntamento, de chegar à igreja de Santo Ildefonso e de ver lá em baixo multidões a descer a rua dos Clérigos. Pelo meio apareceram uns cartazes contra a ministra particularmente obscenos, demasiados maus até para uma porta de quarto de banho público. Esses cartazes surgiram na capa do Público do dia seguinte, o que levou o então director, Vicente Jorge Silva, a escrever em editorial a célebre frase "estaremos perante uma geração rasca?". Por ter estado nesses acontecimentos e fazer parte dessa geração é que me senti directamente visado, e durante bastante tempo, pode dizer-se, não ia com a cara do jornalista, até que me passou. As acções foram rascas, é verdade, mas a geração, quero crer, não. A expressão ainda hoje é utilizada.
Vicente Jorge Silva era um apaixonado pelo cinema e concretizou o sonho de realizar uma longa metragem, Porto Santo. O filme não teve grande sucesso (o próprio Público o afirma hoje, a saudosa Grande Reportagem também achou isso na altura), mas à guisa de homenagem fica aqui o único excerto que encontrei da fita, que alguma televisã bem podia passar um dia destes:



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