Ao contrário dos que acham que "isto está tudo ligado", ou que tudo está previsto, eu acredito nas coincidências. Plenamente. E não só acredito como tenho um fraco por elas. Fascinam-me. E esta semana houve duas curiosas.
Assim, comenta-se com entusiasmo a vitória de Fernanda Torres nos Globos de Ouro, tendo superado a própria mãe, (a superlativa) Fernanda Montenegro, que esteve nomeada para o mesmo prémio há 26 anos, mas não o ganhou (percebe-se, ganhou Cate Blanchett), por Central do Brasil, para o qual também ganharia uma nomeação para o Óscar.
A comparação é justa, mas ainda há outro elemento comum: é que tanto Central do Brasil como o novo Ainda Estou Aqui são ambos dirigidos por Walter Salles - que há meia dúzia de anos, por esta altura, esteve pessoalmente aqui no cinema Trindade para uma sessão especial dos 20 anos de Central.... E assim, mãe e filha são nomeadas e premiadas para os galardões mais conhecidos do cinema mundial pela mão do mesmo realizador. Segue-se o Óscar? Se assim for, Montenegro será novamente superada em prémios, mas que ninguém diga que não instruiu devidamente a filha.
Outra coincidência: há dez anos deram-se os ataques ao Charlie Hebdo e a morte dos seus cartoonistas às maõs de um comando islamita, que criou o slogan "Je suis Charlie", defendendo a liberdade de expressão (e usado muito hipocritamente, diga-se, por líderes e entidades políticas que mais não fizeram senão colocar obstáculos a esse direito). Na altura, Jean Marie Le Pen desvalorizou-os, dizendo que "o espírito de Charlie" era "a dissolução perfeita da moral política" e que os seus elementos pertenciam ao pensamento anarco-trotsquista.
Curiosamente LePen morreu exactos dez anos após o atentado. Sendo perfeitamente diversos, o refundador da extrema-direita francesa, legatário do petainismo, das OAS e dos movimentos dos anos 30 que colaborariam com os alemães, que começou a carreira política no Pujadismo, movimento defensor dos comericantes e agricultores, anti-CEE, desconfiado dos "políticos" e percursor do populismo dos nossos dias e os neo-trotsquisas libertários iconoclastas do Charlie Hebdo tinham como inimigo comum os muçulmanos, ou pelo menos o islamismo político. É duvidoso que se aplicasse aqui o chavão "inimigo do meu inimigo é meu amigo".
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