terça-feira, novembro 09, 2004

Os lunáticos

Já será um pouco tarde, e vários blogues já o divulgaram, mas não resisto a postar sobre um artigo de há uma semana do inenarrável António Ribeiro Ferreira, antigo guerrilheiro do MES, e actual funcionário do Governo, além de admirador incondicional de George W bush, como se poderá ver. Ah, e também sub-director do DN, essa referência jornalística posta agora numa situação lamentável.
No dito artigo, o colunista diz que "a Velha Europa" (expressão rumsfeldiana, que colheu bastantes entusiastas) odeia a América e inveja a sua democracia", "é falsamente pacifista, antiamericana sempre", "é anti-semita(...) está de alma e coração ao lado dos terroristas palestinianos", "soltou umas lágrimas de crocodilo com o 11 de Setembro, sonhou com um novo Vietname no Afeganistão, tentou tudo para evitar a libertação(!!!) do Iraque". Além destas barbaridades, Ribeiro Fereira acusa a "Velha Europa" de tudo e mais alguma coisa: anti-semita, como se disse, mas ainda nazi, fascista, terrorista, amiga dos soviéticos, etc.
Para quem fala em ódio, revela-o em demasia nestas linhas. O ódio a tudo quanto seja europeu e que resista ás tentações imperiais da América mais conservadora e ganaciosa. O ódio a uma civilização com raízes profundas, que viu nascer a Democracia, o Direito e o respeito pelos Direitos Humanos, não obstante uma luta sem tréguas para que tais objectivos fossem alcançados. Palavras de alguém que se atiraria da ponte abaixo se W. Bush assim o ordenasse, não se lembrando que a história não tem duzentos anos, que o anti-semitismo se pratica igulamente ás claras do outro lado do Atlântico, que há inúmeros soldados da "Velha Europa" no Afeganistão, e que na sua "cobardia capitulacionista" não permite infâmias como Abu Grahib a Guantanamo.
De certa forma não admira o estado a que o DN chegou, com gente desta à frente. Gente que chega a invocar Francisco Sousa Tavares, só para aborrecer o filho deste último, Miguel. O problema é que o homem do megafone não daria qulquer importância ao paranoico sub-director: dir-lhe-ia apenas que faz parte daquele tipo de pessoas que "comem à manjedoura do Estado", como deixou claro num dos seus últimos escritos em vida.

Mas as declarações lunáticas não se ficaram por aqui. Sabidos os resultados das eleições norte-americanas, João Pereira Coutinho, durante um debate televisivo com Azeredo Lopes (que tinha antes feito uma curiosa alusão à "institucionalização da boçalidade da Administração dos EUA"), comentou que, á semelhança do voto da Austrália, que pouco tempo antes reconduzira John Howard ao poder, não tinha ganha "o voto terrorista". Embora já me tenha habituado ás declarações explosivas do ex-Infame, não posso deixar de me espantar com a desilegância de tais declarações, apelidando todos os votantes de Kerry de terroristas. O mínimo que se pode dizer, para além de que este é um pensamento muito pouco democrático e tolerante, é que certas pessoas perderam a noção do ridículo e do aceitável, vogando num estado de paranóia latente, para quem todos os que não sigam à risca as suas ideias são perigosos assassinos, à espera de colocar uma bomba na próxima esquina.

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