segunda-feira, junho 13, 2005

O PPM acabou



Em 1974, com o advento da Democracia, o Partido Popular Monárquico era a única força política democrática que relembrava os ideais da monarquia sem os habituais e constrangedores complexos miguelistas ou integralistas. A sua importância, ao não deixar caír a recordação de oito séculos de história, foi extremamente importante, apesar do seu residual peso eleitoral. Além disso, os monárquicos-populares foram também a primeira força a defender princípios ambientalistas (muito antes dos pouco autónomos "Verdes"), expressos na campanha contra a instalação de centrais nucleares em Portugal ou por um urbanismo de qualidade nas cidades, que contemplasse os espaços verdes, os cursos de água e as culturas tradicionais que tinham sido o sustento de tanta gente há séculos e séculos no coração das urbes. Como é sabido, apesar da sua diminuta expressão nas urnas, chegaram ao poder via AD, tendo ocupado lugares no Parlamento e no Governo. Eram os tempos de Gonçalo Ribeiro Telles, Barrilaro Ruas, Luís Coimbra e tantos outros, como o velho Rolão Preto, convertido à democracia e já esquecido das suas aventuras nacional-sindiclistas dos anos trinta.
Acabada a Ad, o PPM voltou aos magros resultados abaixo do 1%. Houve no entanto a excepção das Europeias de 1987, em que Miguel Esteves Cardoso, com uma campanha personalizada e imaginativa quase entrava em Estrasburgo (imagine-se o que seria o MEC a discursar no PE!); por pouco não o voltava a conseguir em 89, só que a elevada abstenção trocou-lhe as voltas.
Depois disso, assistiu-se aos tradicionalismos e corporativismos de Nuno Cardoso da Silva e ao desfilar de um conjunto de líderes sem carisma nem senso, que terminaram com o caricato Pignatelli Queiroz e o apoio do PPM a Pedro Santana Lopes, em troca de dois lugares de deputado. Pelo meio houve ainda lugar para todo o tipo de saudosismos das ex-colónias e rejeições à UE, com pseudo-nacionalismos inflamados e bacocos.
Pois bem: quando se julgava que o PPM tinha descido ao seu ponto mais baixo, eis que a sua liderança é tomada por um dos novos deputados - à custa do PSD, relembre-se- que é, nada mais nada menos que o fadista Nuno da Câmara Pereira. O marialva, o homem que sem ponta de argumentos afirma que D. Duarte Pio não é o verdadeiro Duque de Bragança, em detrimento de uma qualquer prima sua (recorde-se que D. Manuel II atribuíu os direitos sucessores a D. Duarte Nuno, pai do actual pretendente ao trono), a criatura que acha que "o aborto devia ser totalmente proibido menos a raparigas abaixo dos dezoito anos, porque até essa idade devem poder prevaricar". Para cúmulo, na direcção nacional sentar-se-á o seu irmão Gonçalo, pifío fadista que reside na inanarrável Quinta das Celebridades (não, parece que já não, segredam-se aqui).
Ribeiro Telles afastou-se da vida partidária (com breve incursão no MPT), dedicando-se agora apenas à arquitectura paisagística; Barrilaro Ruas desapareceu, Luís Coimbra apoia agora Sá Fernandes, e MEC escreve regularmente no DN e na Blitz. O velho partido monárquico e ambientalista acabou. As ideias monárquicas são agora fielmente representadas pela Causa Real .
Com estes excelsos representantes do marialvismo de pacotilha, ancorado em fados, touradas e pouco mais, sem a menor visão do Mundo actual e ostentando a subtileza de um cacto, o PPM chega ao termo do seu caminho (muito, muito) descendente com a expressão que se lhe adivinhava há muito: a de uma caricatura. Paz à sua alma.

(Sobre o mesmo tema aconselho a leitura deste texto de António de Sousa-Cardoso, no Expresso desta semana).

Um comentário:

Mário Almeida disse...

Não sou monárquico, mas lembro-me quando era pequeno por alturas da AD, tinha portanto 9 anos, de dizer que era do partido do garfinho.
Por isso, e tendo sempre nutrido pelo PPM e pelo arquitecto Ribeiro Telles uma simpatia muito grande, partilho da sua tristeza, muito embora por motivos naturalmente diferentes.