sábado, junho 04, 2005

Adio, Trapattoni



Afinal sou obrigado a falar novamente de bola, por uma razão que já se adivinhava há tempos: o técnico que devolveu ao Benfica o título de campeão decidiu voltar para itália, por razões familiares. Muitos, apesar dos apressados agradecimentos, terão ficado alegres. Eu não.
Talvez nem tanto pelo que poderá ser a próxima época: com um bom técnico e mais algumas soluções no banco, e se não houver nenhuma revolução no plantel, podemos pensar em fazer uma campanha europeia aceitável e revalidar os títulos internos. a questão é outra. É que apesar de todas as críticas que lhe foram feitas ao longo de época, tanto por benfiquistas como não-benfiquistas, assim como "defensivo", "Trapalhoni", "senil (aos 65 anos!)"ou "acabado para o futebol", e da ingratidão que muitos mostram, fiquei-lhe eternamente agradecido não só pelo fim do jejum como pela enorme dignidade que demonstrou, pelo nível que manteve e pela paciência face ao vendaval de críticas que ouviu. Soube ser pragmático e realista a partir do momento que ficou a saber o que valia o plantel no seu todo, mais os seus adversários ("em Abril e Maio é que se resolvem os campeonatos", disse), e não embandeirou em arco quando se começou a distanciar na tabela. Conseguiu ser além disso de uma correcção extrema, apesar de alguns lapsus linguae e gaffes. A sua forma de viver os jogos, ora serena, ora exaltada e emocionada, fará saudades. As suas tentativas de falar um português italianado com espanhol pelo meio (fizera o mesmo na Alemanha) também. E convém sobretudo lembrar que já não tínhamos um treinador tão titulado desde o tempo de Bella Guttman, nem sequer Ericksson. Trap não é apenas um conhecido treinador italiano: é um dos mais vitoriosos de sempre, o único que até agora conseguiu ganhar TODOS os troféus europeus, e que por isso mesmo se poderá considerar uma lenda viva do futebol. Basta lerem este artigo de Luís Freitas Lobo intitulado "No trilho da raposa" para confirmarem isso mesmo: Trap é um dos raríssimos técnicos já campeões por três países diferentes, e é o recordista em títulos europeus. Mas o mais impresionante é que ainda conserva toda a sua humildade, simpatia e naturalidade, não precisando de escudar-se em frases-choque ou atitudes de ser "o maior da minha rua".
Que regresse então Trap a casa, à sua família e a um qualquer clube transalpino que tenha a sorte de o contratar. Já não precisa de provar nada a ninguém, e a desilusão (ou azar) que teve na Squadra Azzurra já passou à história. Sai em grande do SLB, ao qual devolveu a alegria. e confirma o que eu disse aqui mesmo quando chegou à Luz: velhos são os trapos, não os "Trapas". E para rematar, deixo aqui o currículo desse grande senhor do futebol europeu que é Giovanni Trapattoni.

Uma Taça dos Campeões Europeus
UmaTaça Intercontinental
Uma Taça das Taças
Três Taças UEFAS
Sete campeonatos italianos
Um campeonato alemão
Um campeonato português
Duas Copas Itália
Uma Taça da Alemanha
Uma supertaça alemã
Duas supertaças italianas

Arrivederci, Trap.

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