terça-feira, junho 07, 2005

Se Serralves não existisse tinha de ser inventada

Há já algumas semanas que Lordelo do Ouro vinha sendo objecto de notícias pouco abonatórias, como a do assassínio da menina do Bairro do Aleixo, das despropositadas declarações do pároco a propósito da hedionda morte da criança, ou, há dias, a do homicídio de um pobre taxista de sessenta anos, em plena luz do dia e a vinte metros do hotel Ipanema Park.
Como nem só de más novas vivem as freguesias, Serralves teve o bom gosto de reeditar as quarenta horas non-stop, forma reduzida das Noites Brancas de Paris ou Roma, em que se podia visitar todo o espaço da fundação de graça. Claro que o rótulo da gratuitidade levou milhares de portuenses ao idílico espaço, aos seus jardins, prados, concertos, exposições e colóquios. O sucesso era esperado, mas a quantidade de gente que por lá passou deve ter superados as expectativas. Pela minha parte não posso falar das tardes em que as famílias aproveitaram para se estender na relva, uma vez que só me desloquei à Fundação quando já era noite cerrada e enormes luzeiros iluminavam as milhares de pessoas que por lá circulavam.



Neste ponto de encontro as pessoas acotovelavam-se a descer as escadas

Num prado normalmente reservado ás de ovelhas, uma tenda de circo expelia música ora aparentada com o reegae, ora parecida com coisa nenhuma, tais eram os guinchos agudos da intérprete. Como seria de supôr, acabou com techno puro, já despontava a alba. Embora tenha estado na prado a maior parte o tempo, não perdi a magnífica exposição de fotografias de Paulo Nozolino (atenção, até dia 12) ainda no início da noite, tendo reservado a dos projectos de Siza Vieira para as primeiras horas da manhã, quando os noctívagos se arrastavam para fora de Serralves e os madrugadores ainda não tinham aparecido. Ainda que a noite não dormida me pesasse em cima, foi gratificante passear pelo museu iluminado pelos primeiros raios de sol, com um fundo musical belíssimo (um estranho encadeamento sonoro, comovente e babilónico ao mesmo tempo) e uma ansiada placidez, depois das multidões que por lá circularam. À saída, os jardins respiravam todo o ar da manhã luminosa. A noite branca tinha valido bem a pena.
Sim, Lordelo,- onde Serralves também se situa - já merecia uns momentos de alegria, para variar um pouco das semanas antecedentes.

Um comentário:

mfc disse...

Estive lá e gostei imenso... estava muito bem organizado e de uma animação cultural como poucas vezes se vê.