segunda-feira, maio 07, 2007

Pas de nouvelles
Também em França as surpresas foram escassas. As sondagens acertaram, os discursos não trouxeram novidades, a Concorde serviu de palco a manifestações de júbilo, a Bastilha a cenas de protesto e as banlieues a desacatos.

Sarko, o homem que correu metade da sua vida para chegar a este cargo, lá conseguiu, prometendo "a mudança". Desconfio que o homem que ajudou a incendiar os subúrbios franceses vai desiludir muitos dos seus entusiásticos apoiantes, lá como cá. A ideia do mérito e do trabalho depende mais da sociedade do que das forças políticas que a regem; a emigração ilegal não é coisa que se resolva com a ligeireza que ele assume; a "constituição simplificada" dependerá de outros estados; e a sua ideia velada de um directório não é propriamente animadora aqui para as bandas lusas - embora duvide que qualquer outro líder gaulês não fizesse o mesmo. Depois, as ideias proteccionistas do senhor colidem com muito do propalado liberalismo que anuncia. Contradições. Há vinte anos, Chirac era o campeão do liberalismo em França. Depois de umas breves medidas, tornou-se o defensor dos valores do Gaullismo. A ver vamos se Sarko não retoma a política do General de Colombey, contrariamente ao que apregoa agora.


Segolène acabou por desiludir, depois de quebrar a força dos anacrónicos elefantes da ex-SFIO. Pensava-se que surigiria com novas ideias, novas caras, novos rumos, mas acabou por repetir velhas fórmulas, propôr coisas inacreditáveis, como o salário mínimo europeu, a determinar por cada um dos países. É uma autêntica senhora gaulesa, elegante mas autoritária, que facilmente "reste en colère" quando a contrariam; lembrou-me muito as minhas professoras francesas da primária (mas sem a elegância). Terá de rever alguns conceitos e algumas estratégias. Talvez não lhe faça pior estudar um pouco as ideias de Strauss Khan em lugar de recuperar velhos jargões caros à esquerda amodorrada. Até porque as legislativas estão à porta. Não sendo necessariamente mais importantes do que as presidenciais, tendo em conta o sistema presidencialista do Hexágono, são relevantes e complementarão o acto eleitoral de Domingo. A neo-UDF, da Bayrou, terá também importantes palavras a dizer.


Os dois principais candidatos, como já se disse, respresentaram uma lufada de ar fresco na geriátrica classe política francesa. Serão eles, e mais um punhado, a dominar o panorama no mais politizado país europeu. Se não houver razões de força maior ou grandes choques pelo meio, as eleições presidenciais terão com certeza os mesmos protagonistas. Basta que se conserve uma qualidade fundamental dos que se candidatam a este cargo: a persistência. Sem ela, jamais Miterrand ou Chirac lá teriam chegado.

7 comentários:

Carmo da Rosa disse...

'o homem que ajudou a incendiar os subúrbios franceses'

Esta é boa!
Quando ele lá chegou já os subúrbios ardiam...
A não ser que ele tivesse telefonado previamente aos pobres rapazes desempregados e sem perspectivas dos subúrbios a insultá-los! E eles pumba, vingam-se nos vizinhos...

João Pedro disse...

Ele não "chegou lá": ele já lá estava quando os subúrbios ardiam. Mas despejou uns bons litros de gasolina no incêndio.

Carmo da Rosa disse...

Há sim?
Bem me parecia, com o um nome destes (Sarkozy) foi ele de certeza...
E também foi ele que matou à paulada o Jean-Claude Irvoas, e o Jean-Jacques Le Chenadec, e, já agora, também foi ele quem incendiou uma inválida dentro de um autocarro. O homem é levado da breca...

João Pedro disse...

Continua a não perceber.
Não disse que Sarko era o culpado dos tumultos nem a válvula que lhe deu origem. Mas parece-me indiscutível que só os exacerbou ainda mais com algumas posições, e não estou a falar do episódio da "Racaille": aparecer em locais de manifestações como quem não quer a coisa, e sem ser a título oficial, está longe do senso comum que lhe era exigido.
Um ministro do interior coordena não epans a polícia, mas igualmente os bombeiros, e deve por isso mesmo preocupar-se em apagar fogos, não em os atear.

Carmo da Rosa disse...

Oh João Pedro, você é que continua a não perceber a ponta dum corno!
Eu já percebi há muito tempo que você acha que a culpa tem de ser obrigatoriamente do Sarkozy, pela simples razão que ele não é de esquerda – pelo menos não é da ideia que você tem de esquerda. Porque, no seu mundo simples de alma crente povo rude, quem é de direita, é geneticamente mau, logo, por oposição, quem é de esquerda é infinitamente bom - mesmo quando mata e esfola!!! E isto é válido seja onde for: Corbeilles-Essone, Iraque, Darfur, Afeganistão, Indonésia, Paquistão e Zimbabwe.
Por isso é que o João Pedro vem debitar essas larachas que ele (Sarkozy) exacerbou mais ainda os pobres jovens, que coitados, já estavam exacerbados quanto baste…

Mas vejamos ‘algumas posições’, como você diz:
‘Aparecer em locais de manifestações como quem não quer a coisa, e sem ser a título oficial’.
Mas então, por que carga de água é que um francês com as contas em dia e que paga devidamente os seus impostos, não pode aparecer em qualquer parte do território nacional que lhe der a real gana?
Como você sabe, os políticos portugueses – de esquerda e de direita – aparecem frequentemente, ‘como quem não quer a coisa’, em locais onde preferem não ser vistos a título oficial, nem sequer a título pessoal…
E como você diz e muito bem, ele era ministro do interior, e a função obriga a estar presente onde há problemas. Coisa que você acha estranho, porque está mal habituado em Portugal, onde normalmente o ministro, por princípio, não aparece onde há problemas. Tem mais que fazer, o senhor doutor tem que ir à manicura…

João Pedro disse...

O Carmo da Rosa, então eu não percebo nada e depois põe-me aí coisas que eu não disse nem teclei? Mundo simples? Esquerda e direita? Zimbabwe? Darfur? Mas que raio tem isso a ver com o assunto? e onde é que as diferenças entre a esquerda e a direita (hoje tão confusas e amolgadas) têm a ver com o caso?

O que eu disse é que um ministro do interior, numa altura de conflitos e tumultos, tem de actuar com bom senso. E isso implica reagir com a necessária e proporcional firmeza, sem atirar gasolina de qualquer maneira. Ora Sarkozy quis fazer isso mesmo; e as suas aparições em determinados locais, despido do seu poder ministerial, eram uma provocação calculada, não uma acto de coordenação de forças ou um "petit tour" para apanhar ar. Ninguém está aqui a desculpar quem tem responsabilidades em actos criminosos ou no seu incitamento, mas simplesmente a criticar quem devia ter controlado a situação de forma firme mas ponderada. Acresce que as suas posições são extremamente ambíguas, e as suas ideias de afrancesar o islão no seu território, trazendo-o das caves para a luz do dia, ficaram pelo caminho.

E espero que da próxima não lance anátemas ideológico. Não pertenço nem À esquerda Rousseauniana e "politicamente correcta" (para usar um termo já quase sem sentido) nem à dura do cacete ou do "só é pobre quem quer". As coisas não são tão simples como pretende fazer crer.

Anônimo disse...

Peço desculpa pelos meus exagerozitos, e também pelos anátemas ideológicos - estava mal disposto nesse dia. Mas continuo a achar estranho e um tanto vago o que você disse e continua a dizer.
Ao afirmar que Sarkozy atira gasolina de qualquer maneira, e que as suas aparições eram uma provocação CALCULADA, está a insinuar (ou não será assim?) que ele, além de desastrado, tem interesse político em ‘incendiar’ a rapaziada…
Por outras palavras, ajudou a criar uma situação de quase guerra civil para ganhar as eleições!!! É isso que quer dizer?

E além disso:

O que é, e como é que se actua com bom senso?
Como é que se reage com a necessária e proporcional firmeza?
Ele ‘devia ter controlado a situação de forma firme mas ponderada’.

Tem algumas sugestões?
‘Vai ver que as coisas não são tão simples como pretende fazer crer’!

Peço desculpa pela utilização da sua frase na totalidade, mas que diabo, estou cansado, já são 2 da matina aqui em Amesterdão e, diga-se de passagem, vinha mesmo a calhar…

carmo da rosa