Confesso que tenho a incurável mania de correr caixas de comentários de redes sociais, jornais online, etc. Vício muito pouco saudável, porque além de nos fazer perder tempo precioso, põe-nos em contacto com a lama opinativa: frustrações pessoais, insultos rascas, ignorância inimaginável, remoques grosseiríssimos, enfim, todo o tipo de rasquices e misérias.
Dois exemplos: uma notícia pavorosa, em que uma criança de um ano e meio tinha morrido depois de ser atacada por um pitbull, em Beja. O sentimento geral devia ser de consternação, mas o que se nota é a apologia feita ao cão, que coitadinho, estava "mal educado e maltratado", era "guardado numa varanda", "devia-se sentir muito infeliz e reagiu assim", seguindo-se uma discussão sobre se a culpa é do cão, dos pais ou dos donos, quais as responsabilidades destes, se o cão seria realmente responsável, etc. Parece que a morte de um bébé que mal devia saber andar é uma questão de somenos. Por muita culpa que tenha o responsável pelo cão e os seus tratos, é impossível dissociar-se o animal (ainda por cima de uma raça potencialmente perigosa) da morte. Para cúmulo, a suspeita do costume nestes casos, a associação Animal, vem pôr em causa o relatório da autópsia insinuando que os ferimentos que provocaram a morte da criança não têm origem na mordedura do cão, e no seguimento disso lançou agora uma petição para se impedir o abate do cão, porque o cão, se atacou, "é porque teria algum motivo" e "merece uma segunda oportunidade". Eu, que nunca vi ser dada uma segunda oportunidade a um infanticida, nem justificá-lo com "um qualquer motivo", fico pasmado com estas pessoas que estão tão ruidosamente a manifestar-se por um cão (algumas chegam a dizer que "é a única vítima"), dando as desculpas mais ridículas e infames como se não tivesse acontecido nada de especial. E ainda há algumas que querem criminalizar os pais, como se a tragédia não bastasse. Gostava de saber qual seria a reacção se lhes tivesse acontecido o mesmo. Esta gente defende os animais raiando a loucura e é tão cruelmente desumana.
Ao mesmo tempo, sabe-se que Assunção Cristas, a Ministra da Agricultura e do Ambiente, está grávida do quarto filho. Uma novidade, ao que parece nunca um membro do governo tinha engravidado no exercício de funções. Implicará a sua substituição interina, como aliás prevê a Constituição, sem grandes problemas. Num país de baixíssima natalidade, ver uma mulher com pesadas responsabilidades públicas ser mãe deveria ser motivo de regozijo. Pois bem, vi uma caterva de comentários afirmando que "era uma afronta às trabalhadoras que não tinham meios para gerar filhos", que se quem desempenha funções governamentais "não pode ficar grávida", que "ia beneficiar de clínicas privadas com o dinheiro de todos", e coisas ainda mais baixas, incluindo desejos de que o parto corra mal. Sim, parece que Cristas se tornou numa criminosa e que engravidar é uma terrível ofensa, ao mesmo tempo que se defende o direito a abortar sem razões aparentes e com direito a pagamentos e subsídios pós-aborto pelo estado. Num país a envelhecer cada vez mais, recorde-se.
O que estas duas notícias revelam aparentemente têm pouco a ver. Mas há um elo em comum: uma inversão de valores, em que crianças são consideradas abaixo de cão e uma grávida se torna num alvo de insultos pelo horrendo crime de ser ministra e ser remunerada por isso. As redes sociais e os "fóruns" tornaram-se emissores destes excrementos escritos. Aquilo que só se via em tascas, obras e portas de casas de banho públicas cai no espaço comum de forma nauseabunda. E vemos assim o terrível código de valores contemporâneos no seu ponto mais baixo. Bem sei que não é toda uma sociedade que se revê naquilo, mas uma boa parte dela, o que mostra que a doença que a afecta é grave. Mais do que a pobreza material, a pobreza moral, o desprezo pelo Homem, a ignorância atrevida, a inveja e a pura maldade saltam à vista. A bem da sanidade mental, é melhor fingir que nem existem.
Ao mesmo tempo, sabe-se que Assunção Cristas, a Ministra da Agricultura e do Ambiente, está grávida do quarto filho. Uma novidade, ao que parece nunca um membro do governo tinha engravidado no exercício de funções. Implicará a sua substituição interina, como aliás prevê a Constituição, sem grandes problemas. Num país de baixíssima natalidade, ver uma mulher com pesadas responsabilidades públicas ser mãe deveria ser motivo de regozijo. Pois bem, vi uma caterva de comentários afirmando que "era uma afronta às trabalhadoras que não tinham meios para gerar filhos", que se quem desempenha funções governamentais "não pode ficar grávida", que "ia beneficiar de clínicas privadas com o dinheiro de todos", e coisas ainda mais baixas, incluindo desejos de que o parto corra mal. Sim, parece que Cristas se tornou numa criminosa e que engravidar é uma terrível ofensa, ao mesmo tempo que se defende o direito a abortar sem razões aparentes e com direito a pagamentos e subsídios pós-aborto pelo estado. Num país a envelhecer cada vez mais, recorde-se.
O que estas duas notícias revelam aparentemente têm pouco a ver. Mas há um elo em comum: uma inversão de valores, em que crianças são consideradas abaixo de cão e uma grávida se torna num alvo de insultos pelo horrendo crime de ser ministra e ser remunerada por isso. As redes sociais e os "fóruns" tornaram-se emissores destes excrementos escritos. Aquilo que só se via em tascas, obras e portas de casas de banho públicas cai no espaço comum de forma nauseabunda. E vemos assim o terrível código de valores contemporâneos no seu ponto mais baixo. Bem sei que não é toda uma sociedade que se revê naquilo, mas uma boa parte dela, o que mostra que a doença que a afecta é grave. Mais do que a pobreza material, a pobreza moral, o desprezo pelo Homem, a ignorância atrevida, a inveja e a pura maldade saltam à vista. A bem da sanidade mental, é melhor fingir que nem existem.
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