Não conheço a fundo a obra de Jacques Le Goff para fazer uma crítica póstuma à sua extensíssima obra de medievalista. Mas para além de uma carreira profícua, longa e honesta, há que relembrar o homem que sempre tratou a Idade Média como uma época extremamente complexa e rica, de alguma transição, mas nunca a "Idade das Trevas" e do "obscurantismo" com que os Iluministas a pintaram (ou melhor, descoloriram). Houvesse mais gente minimamente atenta a isso e que se prestasse mais a debruçar-se sobre a história do que a macaquear lugares-comuns e não veríamos sempre o epíteto "medieval" colado a situações menos positivas ou consideradas "ultrapassadas".
De José Wilker muitos falaram do seu papel na Gabriela (a original, já que tempo apareceu no remake com um papel totalmente diferente). Como não me posso recordar da novela que fazia com que os trabalhos do Parlamento encerrassem diariamente antes do seu começo, recordo o papel do actor em Roque Santeiro, tão ou mais popular (deu o nome ao maior mercado africano, em Luanda)que Gabriela, em que interpretava um ex-artesão que todos julgavam morto, 17 anos depois da data presumida da sua morte, e que se tinha tornado entretanto um mártir popular e objecto de veneração e de comércio, quando na realidade era apenas um vigarista fugitivo. Morreu agora, com sessenta e tal anos, mas deixou o seu nome bem firmado no cinema, teatro, e claro, na televisão brasileira, exportadora de boa parte da imagem do gigante sul-americano que inventámos. Seria interessante se alguma vez passassem por cá a minissérie JK, sobre a vida de Juscelino Kubitschek, encarnado por Wilker.
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