Está lá tudo: a riqueza combinada com rigor estético, o retro-fashion nostálgico impecável, os laços de paternidade subsidiária, o elenco impressionante, com rostos de sempre (Bill Murray e Owen Wilson, claro) e algumas estreias (a começar pelo protagonista, Ralph Fiennes). Desta vez, o cenário passa-se na Europa Central, em épocas diversas, fazendo flashes de flashes do passado, mas sempre com o Hotel do título como cenário. Mas a acção principal dá-se em 1932, na fictícia república de Zubrowka, típico estado da Mitteleuropa arrancado ao Império dos Habsburgos, em que o Grand Hotel, sob a guarda do seu zeloso concierge, atrai aristocratas de todo o continente. Em fundo, a ameaça de invasão militar, a fazer lembrar o Anschluss. Não faltam exércitos "prussianos", com oficiais disciplinados mas respeitáveis (lá está, entre o espírito prussiano e o austro-húngaro), agentes psicopatas directamente vindos das SS (ou no caso, das ZZ), estâncias de inverno, mosteiros beneditinos nas montanhas, aristocratas decrépitos, cidades barrocas, pastelarias quase de fantasia e um conjunto de personagens bizarras e multi-étnicas, como é comum nos filmes de Andersson, a começar no paquete Zero Mustafá, que anos mais tarde se tornará no proprietário do hotel e narrará toda a história, já num ambiente soviético decadente. Mas o filme reveste-se de todo um típico ambiente de entre-guerras, já nostálgico do passado e a pressentir a vinda de um novo mundo, não necessariamente melhor. Não é por acaso que o cenário real do hotel baseia-se em Karlovy Vary, uma deliciosa cidade termal, hoje checa, a fazer lembrar Sintra, mas com mais floresta, e também em Dresden (curiosamente passei pelas duas no espaço de horas) e em Gorlitz. E aquela dedicatória a Stefan Zweig, um autor outrora muito na moda e cuja obra está felizmente a ser reeditada, depois de longos anos de relativo esquecimento. Zweig era um dos grandes representantes desse mundo legado pelo império dos Habsburgos, e acabou com a vida, fugido da 2ª Guerra, porque acreditava que tinha acabado definitivamente. A dedicatória é não só compreensível como inteiramente merecida.
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