sábado, abril 26, 2014

Grand Budapest Hotel

 
Antes de o ver, já imaginava que Grand Budapest Hotel seria um dos filmes do ano, mesmo que estejamos ainda em Abril. Não me enganei. Os filmes de Wes Andersson nunca me desiludiram nem me levaram ao engano.
Está lá tudo: a riqueza combinada com rigor estético, o retro-fashion nostálgico impecável, os laços de paternidade subsidiária, o elenco impressionante, com rostos de sempre (Bill Murray e Owen Wilson, claro) e algumas estreias (a começar pelo protagonista, Ralph Fiennes). Desta vez, o cenário passa-se na Europa Central, em épocas diversas, fazendo flashes de flashes do passado, mas sempre com o Hotel do título como cenário. Mas a acção principal dá-se em 1932, na fictícia república de Zubrowka, típico estado da Mitteleuropa arrancado ao Império dos Habsburgos, em que o Grand Hotel, sob a guarda do seu zeloso concierge, atrai aristocratas de todo o continente. Em fundo, a ameaça de invasão militar, a fazer lembrar o Anschluss. Não faltam exércitos "prussianos", com oficiais disciplinados mas respeitáveis (lá está, entre o espírito prussiano e o austro-húngaro), agentes psicopatas directamente vindos das SS (ou no caso, das ZZ), estâncias de inverno, mosteiros beneditinos nas montanhas, aristocratas decrépitos, cidades barrocas, pastelarias quase de fantasia e um conjunto de personagens bizarras e multi-étnicas, como é comum nos filmes de Andersson, a começar no paquete Zero Mustafá, que anos mais tarde se tornará no proprietário do hotel e narrará toda a história, já num ambiente soviético decadente. Mas o filme reveste-se de todo um típico ambiente de entre-guerras, já nostálgico do passado e a pressentir a vinda de um novo mundo, não necessariamente melhor. Não é por acaso que o cenário real do hotel baseia-se em Karlovy Vary, uma deliciosa cidade termal, hoje checa, a fazer lembrar Sintra, mas com mais floresta, e também em Dresden (curiosamente passei pelas duas no espaço de horas) e em Gorlitz. E aquela dedicatória a Stefan Zweig, um autor outrora muito na moda e cuja obra está felizmente a ser reeditada, depois de longos anos de relativo esquecimento. Zweig era um dos grandes representantes desse mundo legado pelo império dos Habsburgos, e acabou com a vida, fugido da 2ª Guerra, porque acreditava que tinha acabado definitivamente. A dedicatória é não só compreensível como inteiramente merecida.
 

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