sexta-feira, outubro 02, 2015

Fim de campanha



A campanha está a acabar. Os partidos dão as últimas, fazendo as arruadas nos grandes centros urbanos, os comícios para apelar desesperadamente ao voto, lançam as últimas cartas, que nunca podem ser notícias bombásticas que soariam a oportunismo e demorariam a digerir, espalham os seus militantes por toda a parte.

Hoje pude ver ao meu redor um bom exemplo do funcionamento de uma grande máquina partidária. Na estação de metro da Trindade, onde o MPT se dirigiu o propósito da sua posição oficial crítica perante o ajuste directo feito pelo governo (á pressa e sem informar as autarquias) para a concessão dos serviços do Metro do Porto, o PS tinha três bancas para distribuição de propaganda e canetas, duas carrinhas, um autocarro de dois andares a expelir discursos de António Costa, inúmeros militantes, muitos deles da JS, com t-shirts próprias, a distribuir panfletos, ou seja, toda a capacidade de um partido grande e com meios. O contraste com a distribuição de panfletos do MPT era enorme. Tratando-se do PS, fazem justiça ao seu plano de "acabar com a austeridade".

Os grandes partidos são assim. O encontro de arruadas de ontem, na baixa do Porto, mostrou isso mesmo. A Coligação, juntando o CDS ao PSD, ainda teve mais militância. A CDU tem o empenho dos seus militantes e funcionários. O Bloco também tem os seus meios, embora a imaginação de outrora pareça um pouco gasta.

Na falta de meios e militância, os que não têm representação parlamentar precisam de mais engenho. Assim, o Partido da Terra, apostou na Campanha "Gonçalo", distribuindo bonecos em que nasce erva em lugar de cabelo, aos quais deu o nome do fundador do partido, Gonçalo Ribeiro Telles, em operações que chamassem a atenção ao público, como as arruadas ecológicas em tuk tuks ou a faixa pedindo a recuperação da ponte Dona Maria Pia.
O Livre apostou nas inúmeras personalidades que o apoiaram, mesmo que algumas não sejam tão conhecidas do grande público. O PDR aposta tudo em Marinho "e" Pinto e em métodos tradicionais, como carros de som, o PNR no medo dos refugiados, fazendo encenações de mulheres de niqab pelas ruas de Lisboa (há mesma imensas refugiadas com tais vestimentas...), O PCTP/MRPP nas frases sonoras, o AGIR nos sucessivos streap-teases de Joana Amaral Dias e em manifestações encapotadas contra o governo (como aquelas dos inquilinos que era encabeçada por Daniela Serralha, nº 3 por Lisboa pelo AGIR, coisa que ninguém se lembrou de referir), o PPM no mediatismo e à vontade de Gonçalo da Câmara Pereira, etc.

Se se confirmarem as sondagens, o PS perderá com uma percentagem de 80% por sua culpa. Campanha errática, confusa, com aqueles suicidas "amigalhaços do BPN" ou "se perdermos, não viabilizaremos o próximo orçamento de estado". Quando se tratou de mudar a mão, era tarde. Até a afonia de António Costa, hoje, na Cervejaria Trindade, se tornou um mau prenúncio. Não aproveitou os erros e a impopularidade do governo, a vitória no debate televisivo e o falhanço recente da venda do Novo Banco. E em contrapartida, a PaF teve uma campanha bem mais profissional, embora sem rasgos de imaginação, sem grandes ondas e Passos Coelho ainda teve o bom senso de afirmar que se não ganhasse viabilizaria o orçamento de estado.

Já agora, um traço comum à esquerda: o uso das palavras "gente" e "confiança". "Gente séria", "Gente de verdade", "gente que não se vende", ou "avança, com toda a confiança" (este começa a ser um clássico da CDU) e "tempo de confiança". Gente de confiança, será a mensagem que a esquerda, involuntariamente, está a passar? Se não quiser formar um governo de conjunto mesmo que a PaF ganhe, talvez. Mas em Portugal, por razões que deviam ser óbvias para qualquer pessoa, e tirando uma situação anormal, nunca haverá qualquer "frente de esquerda".


2 comentários:

A.Teixeira disse...

Boa Sorte para si e para a lista de que faz parte. Manda a honestidade dizer-lhe que não espero uma surpresa, mas os votos de um resultado digno para o MPT no distrito do Porto são genuínos.

João Pedro disse...

Muito obrigado. Os resultados não foram famosos e não ultrapassaram o normal para um partido como o MPT, mas tendo em conta a saída de militantes e a algumas situações estranhas que reduziram o número de pessoas activas, era difícil fazer melhor.