quinta-feira, dezembro 23, 2021

Uma colectividade de bairro de uma cidade transmontana

As pequenas colectividades contam muitas vezes a história dos locais que representam. Como a do Bairro Latino, clube desportivo do bairro dos Ferreiros, que desce abruptamente desde a imponente ponte metálica até à velha ponte de Santa Margarida, de pedra, ambas sobre o Corgo. Diz-se que um conjunto de estudantes de liceu locais encontrou algumas semelhanças entre o Quartier Latin de Paris e o seu bairro dos Ferreiros, zona de artesãos e, dizia-se, de casas de má fama, e impulsionados pelo Dr. Otílio de Figueiredo, Pai do Professor Eurico de Figueiredo (sim, o líder mais radical da greve estudantil de 1962 e mais tarde deputado do PS antes de passar a outros partidos, como o PDR e o MPT), resolveu criar um clube com o nome de Bairro Latino, dando conta que a rua principal e as ruelas que a ladeavam eram tantas como as línguas latinas. Apesar de muito eclético e de ter várias modalidades de salão e exteriores nunca teve um campo de jogos próprio nem nunca conseguiu ombrear com o vizinho maior, o SC Vila Real, que não lhe permitia jogar no mítico campo do Calvário. O Bairro Latino quase desapareceu, mas voltou a conseguir sede própria, próxima da antiga (onde ao que parece as francesinhas estavam ao nível das do Cardoso, lá em cima na "bila"), onde hoje funciona a Agência de Ecologia Urbana, mesmo à entrada da velha ponte sobre o Corgo (e por baixo da metálica), símbolo maior do velho bairro que representa.

O SC Vila Real, pelo contrário, além de campo próprio (agora até tem dois, ambos com nomes curiosos, Calvário e Monte da Forca), possui o seu próprio bar/loja no espaço nobre do centro da cidade (última foto) e continua a ser a principal agremiação desportiva da cidade.

Seja em aldeias, lugares, vilas ou bairros de cidades, as pequenas colectividades, constituídas em associações, grupos, agremiações e uniões acrescentados dos inevitáveis "desportiva", "recreativo", cultural", etc, constituem um elo de ligação das comunidades, uma oportunidade para a prática desportiva, para difusão cultural ou de informação ou o simples convívio, que no fundo é o que mais importa. São absolutamente essenciais em qualquer sociedade e para todas as idades. Quando desaparecem, extinguem-se também com elas ligações, amizades, práticas rotineiras, exemplos de vida e sobretudo muitas histórias. Quando isso acontece, é a antevisão do declínio das sociedades locais que representam, a não ser quando outras as substituam com sucesso.

                                             As duas pontes: a de Santa Margarida e, lá em cima, a ponte metálica




Vista do bairro, do rio  e da velha ponte desde a ponte metálica

O bar/loja do SC Vila Real

O mítico campo do Calvário, há meia dúzia de anos, depois de ser relvado

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