quarta-feira, novembro 06, 2024

Trump, de novo

Analisemos: um tipo que não reconheceu uma derrota eleitoral sem dar provas disso e que inspirou um assalto ao Congresso nacional do seu país, pondo em risco de vida o seu próprio vice, e com inúmeros processos à perna, acaba de ser reeleito presidente por números que não deixam grande margem para dúvidas, para além de ter ganho o Congresso e o Senado. Como já tinha superioridade no Supremo Tribunal, podemos dizer que um homem com tendências cesaristas e autoritárias tem na mão o poder executivo, legislativo e judicial dos EUA, pulverizando o sistema de contrapesos políticos que equilibra os EUA, ou seja, vai poder fazer o que quiser, inclusindo auto-indultar-se.

Para além disso, e o que é pior para nós, é um isolacionista que pouco conhece do mundo, justamente quando alguns dos aliados tradicionais dos EUA enfrentam ameaças e guerras que colocam a sobrevivência do seu modelo político e social em jogo. O isolacionismo é uma corrente antiga e poderosa nos EUA, mais nos republicanos que nos democratas, mas não haveria altura pior do que esta para ser posto em prática. Para além disso, os elogios a Putin, Netanyhau, Xi Jiping e Kim Jon Un revelam muito das suas referências. Significa isto que a Ucrânia perderá grande parte do apoio americano, ao passo que Israel terá respaldo para fazer o que quiser. Pode significar o corte da aliança militar entre Europa e EUA e o fim de uma relação que vinha desde a II Guerra. Não é apenas alguns países da NATO, como o nosso, não contribuírem com 2% do PIB para a defesa. Antes fosse. É realmente um corte com a NATO e a Europa, aumentando ainda mais a possibilidade de guerras futuras.
Em suma, Donald Trump II, com poder quase absoluto nos EUA, será provavelmente o primeiro presidente (descontando o primeiro mandato) que não é amigo da Europa, para ser simpático. Kamala também não o seria, ao contrário de Biden, mas Trump promete vir a ser muito mais hostil. Isto diz muito tanto das prioridades do actual Partido Republicano como de boa parte dos americanos desde há muito (veja-se como Bill Clinton, com o seu "it´s the economics, stupid", venceu um George H. Bush que estava em grande no plano internacional), como da incompetência do Partido Democrata que não se soube rejuvenescer, ao convencer tardiamente Biden a desistir e a lançar a incógnita Kamala, que subiu nas intenções de voto graças à convenção que a entronizou e ao debate com Trump, mas que se revelou quase monotemática, vazia e pouco carismática. E chegamos ao belo resultado que o mapa vermelho dos EUA nos apresenta.



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