domingo, fevereiro 22, 2004

Uma das inúmeras (e excelentes) colecções de "brindes" que ultimamente têm caracterizado o Público é a dos álbuns completos do Tintin, um suprasumo da BD. Digo completos porque não ficaram esquecidos os menos oficiais, como o exemplar desta semana: "Tintin no País dos Sovietes".
Esta obra é apenas e só a primeira da saga do repórter da poupa e calças de golfe. Aqui ainda tem a imagem de escuteiro imberbe (à imagem do seu criador) que viaja até à longíqua e temida URSS para relatar os factos aí decorridos, isto é, uma autêntica missão anti-comunista. Como anti-comunista era o "XXiéme", jornal católico para o qual Hergé trabalhava. E precisamente este álbum atribuiu ao seu autor uma imagem de conservadorismo, racismo até (e mais tarde de colaboraccionismo), que lhe dificultariam sobremaneira o percurso de cartoonista.
É certo que Hergé exprimia uma imagem fortemente anti-bolchevista sem grande conhecimento de causa, e isso nota-se pelas confissões do próprio em relacção à falta de dados fiáveis sobre a realidade do país (aliás difíceis de obter), para além da "naïveté" e precariedade das pranchas. Mas só o facto de ser a primeira da série, com a extraordinária evolução que esta sofreu, serviria para reconhecer a sua extrema importância no universo da BD.
Importância que para mim acresce por motivos pessoais. Lembro-me que me ofereceram o álbum (no original, em francês), no dia da minha profissão de fé, teria eu os meus doze anos. Embora já na altura adorasse os livros do Tintin (cuja obra integral possuo, não precisando pois de recorrer ao Público), este tinha algo que me marcou a partir de então. Não sei se a singeleza dos desenhos, se o ritmo contagiante das aventuras numa sucessão burlesca, ou as divertidíssimas situações surgidas do nada (a fuga da prisão alemã, o modo como as eleições se processavam, as peripécias na Sibéria)...talvez tudo isso em conjunto...Mas o que é certo é que uma das minhas paixões, a BD, instalou-se definitivamente no meu espírito, de tal forma que pouco tempo depois fazia a minha própria aventura em pranchas (um embaixador português em Israel nos anos 60, e vogando pelas Arábias, imagine-se); uma experiência notoriamente inspirada nos álbuns do Tintin e que ficou a meio - mas um dia retomo-a e ainda ouvirão falar de mim como cartoonista!
Datada, politizada ou esquecida, "No País dos sovietes" é uma obra deliciosa que continuo a guardar com consideração e carinho ( na sua versão francesa). Nunco esquecendo o quão marcou o início da minha adolescência, e por isso um caminho complicado mas determinante da minha vida.

Olhando para os últimos posts, reparo que nem uma referência fiz ao triste desaparecimento de Marco Pantani, aquele incrível corredor de crâneo rapado coberto por um lenço de que só tive conhecimento ao vê-lo numa soalheira tarde de Verão, pedalando nos Campos Elísios, consagrando a vitória no Tour, à qual juntaria pouco depois a do Giro. Que o "pirata" possa pois, na dimensão em que se encontrar, trepar montanhas pela eternidade fora, sem ameaças de dopping, drogas ou vergonhosas intromisões na sua vida privada. Das quais está trágica mas finalmente livre para todo o sempre.


Já há uns tempos tinha aqui falado da "stand-up-comedy" do Francisco Menezes, em contraponto com outros. Tive enfim oportunidade de assistir a uma sua performance ao vivo, no regressado-ás-origens Twins. Teve piada, mas acho que ele devia actualizar o repertório, até porque já conhecia metade do "libretto". Asseguraram-se outras futuras actuações no local, prometeram-se futuras irreverências. Só espero é que o sucesso não seja tal que ainda se lembrem de convidar o Fernando Rocha. Palavra de honra que não voltaria lá nas próximas décadas! Mas o bom senso há de imperar. Ou não? É que na semana que vem vai lá o Represas. Por isso...

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