A Casa
À hora a que escrevo, a Casa da Música abriu enfim as suas portas e o seu "espaço acústico" ao público. muitos anos de espera, milhões de euros, despedimentos, demissões, avanços e recuos, obras sem fim, e sobretudo muita paciência depois, o "Iceberg", "meteorito", ou o que quer que lhe chamem, é uma realidade palpável, notória e imponente.
É certo que a localização e a forma foram tempestuosamente contestadas (não falando da sua gestão). Eu próprio franzi o sobrolho à destruição da velhinha "garagem" dos eléctricos dos STCP, ao projecto de Koolhaas, que mais lembrava (e lembra) um iceberg, ou à sua elevada altura, que ultrapassa a da coluna Guerra Peninsular, na Rotunda da Boavista, monumento central de toda aquela zona, e que como tal devia ficar abaixo dos edifícios que a rodeiam.
Pior que isso foram as obras intermináveis, que fecharam parte da Avenida da Boavista durante uma eternidade, cobriram a zona de pó e fizeram-na parecer um cenário de guerra e devastação. O vasto estaleiro de obras é sem dúvida uma má recordação para o comum dos portuenses (ainda me lembro do rasgão que fiz no fato, ao ir para o trabalho, no último Verão, num arame que delimitava o estaleiro, uma vez que não havia passeio), mas todos os tormentos - excepto os das chamas infernais- têm um fim. E este acabou hoje.
O Porto tem agora um novo ex-líbris cultural, a par de Serralves. Se nos lembrarmos dos teatros S. João, Sá da Bandeira - em renovação- Campo Alegre, dos restaurados Rivoli e Carlos Alberto e até do Pé-de-Vento concluímos que no Porto há já uma oferta de espectáculos muito razoável. A Casa da Música veio completar essa oferta, apesar da lacuna de só excepcionalmente comportar espectáculos de ópera. Além do mais espera-se que se torne uma referência na arquitectura internacional, coisa que parece estar a conseguir, tendo em conta os elogios e as reacções que obtém lá fora. Aliás, Koolhaas acabou de ganhar o Prémio Europeu de Arquitectura, vencendo Souto Moura, que concorria com o seu Estádio Municipal de Braga.
Como não podia deixar de ser, alguma blogoesfera de serviço veio imediatamente questionar o financiamento futuro da Casa, exigir punições tremendas para os culpados da derrapagem financeira e soltar os habituais"quem paga a conta é o estado". Ainda que com alguma razão, não seria de mau tom falar do projecto em si e do que trará à cidade do Porto e ao país, pelo menos hoje, sem estar sempre a referir os custos do obra. A não ser, claro, que defendam o imobilismo cultural. E advoguem a demolição da Casa. Por aí se pode ver qual o grau de sensibilidade artística e estética destes senhores: zero.
Mas, polémicas à parte, ela aí está, resplandecente e majestosa, feérica e original. Todos nós, portuenses, estamos também de parabéns, pela paciência que tivemos ao longo destes cinco anos de obras. O resultado final é compensador e digno de orgulho. Quando vier ao porto, a Música já tem Casa onde ficar.
sexta-feira, abril 15, 2005
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Um comentário:
E por acaso lembrou-se de investigar se a casa da música foi feita a pensar na música?
Concordo que uma sala de concertos, boa ou má, é sempre uma boa notícia - porque havendo sala, tem que haver programação.
O que não se compreende é que se construa uma coisa tão limitada, quando era esta a oportunidade de fazer mais. E não estou a falar da ópera nem do fosso de orquestra.
Fui à inauguração da casa da música e logo a seguir à festa da música no CCB. Meu Deus! Que diferença!
Pura e simplesmente não é justo para o Porto e arredores (Braga, por ex.)
E não me interessam as derrapagens financeiras. Quer dizer, não me interessam se a obra ficar bem feita - e não ficou.
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