Eleições na Turquia
Parece que a enorme vitória de Erdogan nas legislativas turcas espalhou o pânico entre uma data de comentadores da nossa praça - da europeia, pois claro, que isto já não vai só entre os limites do rectângulo. Refiro-me apenas ao que dizem os jornais e os bloggers. Naqueles que o P2 do Público revela diariamente, então, o medo é mais que muito. E os disparates também. Fala-se em "avanço do fundamentalismo islâmico", confronto com os valores "laicos e republicanos da Europa" (até parece), e há mesmo uma sumidade que afirma que a culpa disto é toda da Europa "herdeira do internacionalismo comunista", assim como o problema do Kosovo, "ao contrário dos Estados Unidos" (esses não têm mesmo culpas no Kosovo).
Convinha no entanto recordar que Erdogan é talvez o primeiro-ministro turco mais europeísta das últimas décadas, e que durante o seu consulado foram aprovadas normas bem mais próximas dos valores europeus do que o "laicismo"; a abolição de pena de morte, por exemplo. Não será pior pensar também que o seu Partido do Desenvolvimento e da Justiça é o correspondente aos partidos conservadores/democratas-cristãos europeus. É daqui que vem mal ao mundo? De um primeiro-ministro que deseja ardentemente que o seu país adira à UE? Ou que revele que a sua mulher está proibida de usar o véu em cerimónias oficiais?
Também não será pior recordar que o tal laicismo turco tem a tutela das forças armadas, que ameaçam intervir quando há a mais pequena nuvem de islão no ar. E que é herdeirto do estado autoritário e centralizado fundado por Ataturk, e que de democrático tem muito pouco.
Tenho uma certa admiração pelo "Pai dos Turcos" e pela sua acção modernizadora, e tenho muitas reservas em ver a Turquia na UE. Mas isso não me impede de reconhcer que o movimento de Erdogan é, por ora, muito mais próximo da democracia que os tronitruantes herdeiros do autoritarismo kemalista e seus defensores deste lado do Bósforo, que acham que religião é igual a fanatismo e que os muçulmanos são todos uns potenciais bombistas de adaga em riste. Erdogan está de parabéns: conseguiu vencer de forma esclarecedora e tem mais um mandato para mostar o que vale. Se esticar a corda, as urnas dar-lhe-ão novo destino no próximo acto. Mas não o exército ou ou os praticantes de agit-prop que defendem o laicismo rígido enquanto se agarram à bandeira do Crescente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário