quinta-feira, março 13, 2008

Primo de Rivera e Che Guevara: mitos perigosos







Há algumas semelhanças entre as fotografias dos dois homens acima representados. Não certamente pelo seu aspecto - escanhoado, penteado e aprumado, o de cima, de longas melenas, barba e boina, o de baixo. Refiro-me às fotografias em si, cinzentas e um pouco funéreas, como se tornaram as suas memórias. Mas há sobretudo parecenças no que quiseram fazer do seu exemplo e do seu legado.
- Ambos foram acérrimos defensores dos seus ideais, e combateram por isso.
- Ambos promoveram a violência para os difundir e implantar
- Ambos foram fuzilados pelos seus inimigos, sem julgamento legítimo
- Ambos foram utilizados pelos respectivos regimes ditatoriais vencedores (a Espanha franquista e Cuba e castrista) como heróis e mártires
- Ambos são idolatrados pelos seus seguidores-
- Ambos são odiados pelos adversários
Claro que há depois todo um conjunto de diferenças: Che Guevara tornou-se um ícone mundial, muito mais famoso e popular que José António Primo de Rivera, fundador da Falange, que mesmo no seu país, Espanha, é mais uma figura de culto de uma minoria do que um herói nacional, pelo facto de ser fascista. E a fotografia do Che tirada por Albert Korda, captando-lhe o olhar, deu-lhe um estatuto utópico que as imagens de José António, sempre em pose mais rígida (talvez pelo facto de ser aristocrata) e com olhar menos expressivo, nunca tiveram. Qualquer pessoa reconhece o argentino, mas poucos saberão dizer quem é o castelhano. E depois toda uma propaganda eficaz (o sonhador vs o fascista) encarregou-se de solidificar os respectivos estatutos.
Certo é que, à sua maneira, são ícones dos seus grupos políticos. Viveram e combateram com coragem e convicção. Morreram pelas suas ideias às mãos inimigas, acabando assim por chegar a "mártires". Mas são mártires, e mitos, perigosos. Se os seus ideais à partida eram justos, a forma como os espalharam foi a pior possível. A Guerra Civil de Espanha não passou de uma súmula imparável de barbáries, concluída pelos franquistas sob o lema Cara al Sol do Ausente, como chamavam a Primo de Rivera. E inúmeras inspirações guevaristas ainda hoje produzem violências injustificadas, como as célebres FARC colombianas. Sim, lutaram bravamente pelas suas ideias. Infelizmente, todos esses esforços foram provavelmente mais nefastos que benéficos e não tornaram certamente o mundo um lugar melhor para viver.

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