quinta-feira, junho 21, 2012

Críticas não são depreciações


Antes eram as críticas a Cristiano Ronaldo, esse "arrogante endeusado" que "na Selecção nunca joga nada". Passou a Holanda e "onde estão os que criticavam Ronaldo", que "deu aos caluniadores uma bofetada de luva branca"? Dos que são visceralmente anti-Cristiano não sei, mas pela minha parte vociferei furiosamente contra o craque do Real Madrid no jogo com a Dinamarca porque me pareceu realmente displicente e negligente, pouco trabalhador e solidário, a léguas do que costuma jogar em Espanha, e isso podia custar caro à equipa. Criticar quando as coisas estão mal não é anti-patriotismo nem coisa parecida: é apontar erros, repreender, espicaçar, até. E parece que o craque português se sentiu espicaçado a sério, porque dois golos, duas bolas no poste e mais um conjunto de jogadas e passes perigosos são próprios de quem acusou o toque. É o velho problema da liberdade de expressão, agora aplicado ao futebol: é muito fácil ser-se tolerante quando as críticas não se aplicam a nós, mas se alguém se lembra de fazer juízos menos abonatórios a algo a que se tem ligações, tem de contar com fúrias desusadas e acusações de ser anti-qualquer coisa. Sim, haverá em Portugal adeptos do "anti-ronaldismo" (como lhe chama Pedro Lomba em artigo recente, considerando que esta é a "melhor selecção de sempre", um exagero oposto ao de Miguel Sousa Tavares, que ele cita, e que se auto classifica como sendo"anti-Selecção"), que normalmente na guerra de craques preferem sempre Messi. Mas não são certamente todos os que o criticaram quando merecia. Ronaldo é um atleta impressionante, tem uma força de vontade e de trabalho e uma capacidade física do outro mundo, e só por grosseiro cinismo se pode não ficar espantado com a quantidade infinda de golos que marca, alguns de execução bem complicada. mas não ha nenhum dogma que o proteja nos maus momentos, até porque reúne boa parte dos defeitos dos futebolistas que ascenderam ao estrelato (a que chegou com grande mérito, diga-se).

Dito isto, haverá outra razão para que Cristiano Ronaldo tivesse jogado como jogou contra a Laranja Mecânica: é que da última vez que os defrontámos, no Mundial de 2006, na célebre "Batalha de Nuremberga",a táctica da trupe dos Países Baixos, treinada por Van Basten, consistia antes de mais em lesionar o madeirense, coisa que até conseguiram. Se António Vieira tivesse assistido ao jogo, o fragor dos seus sermões certamente redrobraria. Seguiu-se uma autêntica refrega, a meio da qual Maniche marcou o único golo do jogo, que acabou com um número recorde de cartões. Ronaldo certamente lembrou-se da forma como o trataram e vingou-se da melhor forma que sabia: com um grande jogo, que só pecou pela vitória escassa perante uns holandeses absolutamente impotentes para o travar.


Agora calhou-nos na rifa a República Checa, nos quartos de final, em vez da Rússia. Tal como em 1996. Mas agora espero resultado diferente. Basta estudar bem aquela equipa e jogar com humildade, com a certeza de que Petr Cech, Milan Baros & Cª não vão facilitar. Gostava muito de ver jogar Karel Poborsky, mas não quero revisitar o pesadelo do seu portentoso chapéu sobre Baía.

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