O desaparecimento de José Hermano Saraiva foi dos acontecimentos mais comentados nos últimos dias. Como seria de esperar, de resto, tanto pela morte propriamente dita, já que por aparições recentes parecia extremamente doente e envelhecido, como pelos sentimentos que o seu falecimento despertou.
Era uma daquelas figuras que me habituei sempre a ver na televisão, em sucessivos programas de título inspirado. Havia quem não tivesse a melhor das impressões dele, do seu desempenho no cargo de Ministro da Educação ao tempo da crise académica de 1969, e os célebres "gorilas" da Situação. Mas Hermano Saraiva conseguiu livrar-se em boa parte dessa imagem graças ao mediatismo televisivo que adquiriu mais tarde. Foi o ministro de Salazar que, a par talvez de Adriano Moreira (que tinha fama de "liberal"), melhor acolhimento teve no actual regime. Caricaturável, acarinhado por pessoas como Herman José, com grande audiência e o seu muito peculiar estilo e forma de apresentar, a sua voz roufenha com assomos de gravidade, os gestos sincronizados, as frases marcantes (o inconfundível "...aqui, precisamente aqui..."), transmitia alguma bonomia, e apesar de ser até ao fim admirador confesso de Salazar, nunca se mostrou um homem amargurado ou derrotado. A sua obra mais conhecida é a "História Concisa de Portugal", que deve existir em cada estante ou pequena biblioteca por esse país fora. Não era exactamente um académico de imensa craveira e prestígio como tal, e nas suas dissertações criava amiúde algumas situações fictícias (como a dos comerciantes que na Idade média desciam o Guadiana até Vila Real de Santo António...que se fundou por vontade do Marquês de Pombal, ou a forma como Camões perdeu o olho, outro dos episódios que lhe mereceu algumas críticas). Mas teve o não pequeno mérito de contar a História de Portugal e das suas terras aos portugueses, fazendo com que muitos ficassem a saber mais sobre o seu país, ou pelo menos mais curiosos sobre isso. Percorreu Portugal de lés-a-lés, andou por vilas e aldeias, visitou castelos, igrejas, conventos, solares, museus, ruínas de todo o tipo. Deu a conhecer o país pela televisão e não só, sugeria mesmo propostas líricas, como levar os jovens portugueses pelo Mediterrâneo fora, para conhecer os vestígios da Grécia Antiga. Podia ser um pouco efabulador e criador de mitos; mas não será precisamente através da busca do que é fascinante, de conhecer as fábulas, de procurar no lendário e no mitológico, que se percebe e se descobre a História?
PS: de referir também o desaparecimento de Helena Cidade Moura, responsável pela edição da obra de Eça tal como a maior parte a conhece hoje, pelas extensas campanhas de alfabetização pós-25 de Abril e antiga dirigente e deputada do MDP/CDE, e uma das promotoras da definitiva secessão daquele histórico movimento de esquerda fundado por católicos progressistas das coligações com o PCP. Aqui fica um excelente epitáfio.
PS: de referir também o desaparecimento de Helena Cidade Moura, responsável pela edição da obra de Eça tal como a maior parte a conhece hoje, pelas extensas campanhas de alfabetização pós-25 de Abril e antiga dirigente e deputada do MDP/CDE, e uma das promotoras da definitiva secessão daquele histórico movimento de esquerda fundado por católicos progressistas das coligações com o PCP. Aqui fica um excelente epitáfio.
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