quarta-feira, março 19, 2014

Medeiros Ferreira - 1942 - 2014


Medeiros Ferreira tem um percurso pouco comum na política portuguesa e não só pela relevância que alcançou a nível internacional. Pode-se dizer que teve uma carreira circular: começou na oposição radical ao Estado Novo, passou pelo PS, tornando-se um muito jovem Ministro dos Negócios Estrangeiros, com a responsabilidade de iniciar as conversações para a adesão de Portugal à CEE, rompeu depois com os socialistas, compôs o grupo dos Reformadores, que apoiou a AD, integrou o meteoro PRD, seguindo Eanes, e voltou mais tarde ao PS. Mas tal como antes, nunca se submeteu a tiranias partidárias nem às vontades dos dirigentes o momento, conservando sempre o seu espírito crítico, e talvez por isso não voltou a ocupar cargos políticos de relevo. Mas manteve-se publicamente visível em programas de debate televisivo (julgo que a última vez que o vi terá sido no Eixo do Mal, como convidado especial), nos jornais e na blogoesfera, onde durante anos escreveu assiduamente, primeiro no Bicho-Carpinteiro e depois no Cortéx Frontal, onde teve a generosidade de incluir este blogue na sua lista de ligações. Publicou há pouco tempo a sua última obra, Não Há Mapa Cor-de-Rosa, um pequeno livro, em parte um testemunho, com uma lúcida e esclarecedora história da comunidade europeia. E era um assumido e fervoroso benfiquista. Deixou-nos precisamente agora que o título está cada fim de semana mais próximo de voltar à Luz. Como testemunho involuntário, o seu último post, com a sua proverbial ironia, reporta-se precisamente ao Benfica. Bem merecia ter visto o regresso aos títulos do nosso clube.


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