A razão da contínua decadência do Bloco de Esquerda é consequência de uma velha tradição portuguesa. Mas o Bloco, por desconhecimento (com um número tão grande de sociólogos que não lhe servem para nada) ou por colectivismo ideológico, não parece chegar lá.
A tendência mui portuguesa para que as pessoas sigam formações com um líder forte, carismático, ou pelo menos, que represente uma identificação mínima com o movimento que lidera, é situação que qualquer pessoa que siga minimamente a política percebe. Nem é preciso ir a Salazar, ao "líder providencial" ou ao sebastianismo: fiquemo-nos pela Terceira República. O agora de novo tão badalado Sócrates, por exemplo. O "animal feroz", homem que agrega ódios (de quem acha que é o maior ladrão de sempre) e paixões (aquela mulher a bradar "mesmo que ele seja ladrão, eu voto nele!") levou o PS à sua maior vitória de sempre, em 2005, e resistiu a um grande desgaste em 2009. Acabou por perder quando tinha tudo contra ele.
Outro caso recente: o CDS estaria hoje no governo se não fosse a persistência de Paulo Portas, cujo acrónimo é comparado ao do próprio partido? Não é ele o principal elemento agregador de uma formação que tem votações razoáveis em eleições nacionais e fracas nas locais?
Veja-se o PSD: Cavaco já teve melhores dias, mas então tornou o seu partido hegemónico e o país a pintar-se de laranja.
E o velho PCP? Chegou aos 20% com Cunhal, decaiu com a estabilidade política e a queda do comunismo em 1989. Com Carvalhas, definhou. Com Jerónimo, resistiu e cresce de novo. Apesar de durante anos o vetusto partido comunista raramente apresentar caras nos seus cartazes, que eram autênticas "sopas de letras", para realçar o elemento "colectivo", todos sabiam que havia homem no leme, ou melhor, à frente do comité central.
Quanto ao cometa dos anos oitenta, o PRD, só surgiu porque estava colado à imagem de Eanes. é verdade que o general não tinha grande queda para a vida partidária, mas quando ele desistiu o partido simplesmente desapareceu.
E podíamos ainda falar do fenómeno Marinho Pinto e do extraordinário resultado que ele sozinho obteve nas últimas europeias. Ou recuando mais de vinte anos, recordar como o PPM teve interessantes resultados quando apareceu com a cara de Miguel Esteves Cardoso. Tudo para demonstrar como os nomes e os líderes são importantes na política partidária portuguesa. Sem isso, não têm o menor sucesso. O bloco cresceu com um aglomerado de gente, mas sempre com a figura tutelar de Francisco Louçã. A solução bicéfala revelou-se um erro. As emendas foram piores que o soneto: tudo encravado numa convenção com número ímpar de delegados e acabaram por criar uma liderança exacéfala, com a antiga "co-coordenadora", por sinal o elo fraco da liderança dual, no papel de porta-voz. Cada vez mais irrelevante e com uma sangria de elementos válidos e mediáticos, o Bloco parece perseguir o seu suicídio assistido intransigentemente. A liderança conjunta entre dirigentes que já não se dão bem entre si, de facções diferentes e adversas, só pode conduzir ao desastre. Apostar no "colectivo" na política não dá bom resultado, nem é como no futebol. E mesmo aí tem de haver um "mister" para liderar o grupo e levá-lo a bom porto. O Bloco encalhou nos recifes.
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