O anúncio do reatamento das relações entre os Estados Unidos e Cuba, entra seguramente para o pódio das notícias mais importantes do ano (a nível internacional, se quiserem), numa semana em que não foram particularmente animadoras, com o horrível atentado que custou a vida a mais de cem crianças nesse repositório de loucos que é o Paquistão. O fim de uma prolongada hostilidade separada por poucas dezenas de quilómetros é plena de significado, e já teve alguns resultados concretos, como a libertação de três cubanos e de um americano, presos por espionagem. Também as relacções bancárias e viagens directas de um país para o outro serão retomadas. O tão falado embargo terá o seu fim se o Congresso o aprovar, o que com uma maioria republicana não muito para aí virada não deve ser propriamente um dado adquirido.
Mas a abertura da ilha e o degelo com os vizinhos são inevitáveis. Os beneficiados são desde logo os desgraçados que se lançam em balsas com a esperança de alcançar a Flórida, que muitas vezes ficam pelo caminho. Depois, a esperada liberalização política chegará provavelmente a Cuba, porque só o embargo e o discurso à volta dele suporta um regime que tem resistido surpreendentemente em mais de vinte anos à queda da URSS. Acaba também um foco de tensão com mais de cinquenta anos, os EUA limpam uma mancha e de certa forma largam algum lastro moral. E mais uma vez se demonstra que a diplomacia do Vaticano, que estabeleceu pontes entre os dois inimigos, continua a ter uma influência preponderante e com resultados notórios, depois das visitas de João Paulo II e Bento XVI à ilha, prosseguida depois por Francisco, em cujo dia de anos se tornou pública a grande notícia (propositadamente?). O Vaticano talvez não tenha divisões militares, como jocosamente ironizava Estaline, mas além de ter assistido aos desmoronar do estalinismo e sucedâneos, mantém pelos séculos dos séculos uma diplomacia mais eficaz que qualquer outra.
Haverá quem desconfie, quem seja prudente ou que ache que há aqui lirismo a mais, mas seja como for, a novidade é boa para todos. Só não será para os cínicos e os fanáticos, desde os comunistas inamovíveis saudosos Cominform e de Che Guevara e que nunca aceitarão a "capitulação ao imperialismo" até aos obtusos republicanos americanos que lamentam o "estabelecimento de relações com um regime totalitário", talvez esquecidos das que os EUA têm com a encantadora Arábia Saudita. Passando, claro, pelos cubanos de Miami, que na sua maioria vêm com apreensão as novas relações entre vizinhos. Será que não têm familiares na ilha que gostariam de rever? Ou que pensam que as relações dos últimos 50 anos deram algum tipo de resultado? Uma coisa é certa: a partir do dia 17 de Dezembro, Cuba ficou com certeza mais livre.
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