Como quase todos, fiquei surpreendido com os resultados das eleições britânicas. É fácil tirar conclusões agora, mas todos apontavam para a enorme dificuldade que seria formar governo. Afinal, David Cameron permanece em Downing Street sem precisar de coligações com ninguém.
Bem vistas as coisas, as sondagens nem se enganaram por aí além nos números. Mas o sistema uninominal britânico permite coisas destas, e a distribuição de lugares saiu completamente furada, salvo talvez para o SNP e para os liberais-democratas. Por isso, algumas alusões à "falta de isenção" dos media lusos, como a de Helena Matos ao Público, é injusta e descabida. À hora de tiragem dos jornais, eram impossível saber os resultados, até porque as urnas fecharam às dez da noite. Só mesmo na manhã seguinte é que se começaram a tornar claros, e mesmo assim, só à tarde é que os conservadores confirmaram a sua maioria.
Mas a verdade é que as esperanças dos trabalhistas saíram absolutamente furadas, como já sucedera, e alguns recordaram, em 1992, quando Neil Kinnock, dado como favorito à vitória depois de 13 anos de thatcherismo, acabaria por ser derrotado por John Major. O New Labour que se lhe seguiria teria bem mais êxito. Desta vez, Cameron nem sequer precisa da muleta dos liberais -democratas, que tiveram um desaire tremendo, em votos e em lugares nos Comuns. De resto, as expectativas goradas destas eleições fizeram cair rês líderes partidários: Ed Miliband, dos trabalhistas, que tinha apostado numa viragem à esquerda (e recorde-se ascendido à liderança vencendo surpreendentemente o seu irmão David, havendo quem se pergunte agora se não escolheram o irmão errado); Nick Clegg, dos liberais-democratas, segunda figura do governo de coligação, mas cujas questões com Cameron e o síndrome de "partido menor" levaram a um péssimo resultado; e o muito mediatizado Nigel Farage, que alcançou apenas um lugar, ainda que tenha ficado em terceiro nas votações. Do outro lado, os Verdes ganharam algum alento e o SNP escocês, talvez catapultado pelo referendo de Setembro último, teve uma vitória imensa, varrendo os trabalhistas e os liberais da Escócia (os conservadores há muito que lá não são representativos). Aliás, este aparente paradoxo do sistema uninominal tem sido muito discutido: como pode um partido de 12%, como o UKIP, conquistar apenas um lugar, e o SNP, com 4,5%, arrebanhar mais de 50? A força local e em certos círculos ajuda a perceber, mas continuo a preferir o modelo proporcional e a pensar que o melhor sistema é mesmo o misto.
De resto, aqui temos David Cameron com maioria absoluta nos Comuns, dominando a Inglaterra, ao passo que os independentistas do SNP dominam a Escócia. Questões prementes dos próximos anos serão o referendo à permanência na UE (onde apesar de tudo parece-me os britânicos quererão continuar, pese a sua habitual desconfiança dos "continentais"), a economia e a diminuição de impostos, saber o que conseguirá Cameron fazer sem coligações, qual o futuro do Labour e que caminho irá tomar, assim como os liberais-democratas, e se o UKIP continua a ser o partido da moda ou se sem Farage, vai cair. E claro, se o independentismo escocês esvaziará, ou se, como parece, será uma ameaça permanente sobre o Reino Unido.
Wait and see.
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