sexta-feira, janeiro 08, 2021

Assaltar parlamentos


Ao ver as imagens do "índio" a encabeçar a invasão do Capitólio, só posso pensar que o slogan de Trump era afinal de contas "make America indian again" (desculpem não usar "first nations", como agora se usa em correctopolitiquês, mas realmente não ficava bem).

Aquelas imagens devem ter deixado todas as repúblicas das bananas a rir-se, ou pelo menos a sentir-se vingadas. Aliás isso já se viu através de comunicados da Venezuela. São imagens que esperaríamos que viessem de países assim.

Isto choca mais por ser numa das maiores, mais antigas e mais sólidas democracias liberais, com todos os seus defeitos. Mas já aconteceu antes, sim.

Em França, em 1934, uma massa de antigos combatentes, grupos nacionalistas, tradicionalistas (como na altura pujante Action Française) e fascistas tentou marchar sobre o parlamento, no que resultaram dezenas de mortos e feridos. Anos depois iriam na sua maioria colaborar com a ocupação alemã.

Em 1981, um grupo de militares espanhóis, comandados pelo pitoresco Tejero Molina e o seu chapéu da Guardia Civil, ocupou as Cortes de Espanha, com o intuito de instalar um novo regime militar-franquista, impedindo a tomada de posse do novo governo, e só se renderam quando o Rei Juan Carlos a isso os obrigou.
 
E mesmo em Portugal, em 1975, recorde-se o celebre episódio em que as "forças populares", isto é, alguns milhares de trabalhadores da construção civil, cercaram o parlamento por 36 horas, não deixando os deputados sair nem sequer para comer, excepto os das suas cores políticas. Depois disso, o então primeiro-ministro, Almirante Pinheiro de Azevedo, diria aquele icónico "fui sequestrado, não gosto de ser sequestrado, é uma coisa que me chateia".
 
Escusado será dizer que todas estas tentativas não pretendiam instalar nada de bom e acabaram por ser vencidas pela força das instituições e pela vontade popular, a autêntica, expressa nos votos.



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