terça-feira, fevereiro 03, 2009

Amigos dos animais?

Como tantas outras pessoas, vi as famosas vacas açorianas a pastar em Lisboa, na Praça de Espanha, cercadas num redil provisório (e com a relva quase toda comida), como publicidade às ilhas. Passei lá de noite, à boleia, já que naquele sítio quase não se pode circular sem ser de carro e rimo-nos com a imagem.


Ao contrário do Nuno Castelo Branco, nada tenho contra a operação de marketing. Afinal de contas, ninguém melhor do que os tratadores sabem do que elas precisam. Além de que os bichos não tinham um ar nada maltratado, bem pelo contrário: estavam com ar bem nutrido e pachorrento, como se nunca tivessem saído dos habituais verdes prados a que estão habituadas. Mesmo não sendo dos Açores, mas do Ribatejo, zona onde a humidade é mais que muita.


Mas à parte alguns comentários pacíficos, vieram os radicais do costume, em busca de protagonismo mediático. Destacou-se aqui uma associação chamada "ANIMAL", dirigida por um certo Miguel Moutinho. Ao que parece, a campanha é absurda porque, além dos animais estarem "stressados", estão igualmente a ser «usados» em publicidade, que é é condenável em si mesmo, uma vez que se baseia numa visão utilitária dos animais, que assim são tratados como peças que podem ser usadas em manobras publicitárias e não como indivíduos inerentemente respeitáveis .

Eu não olho para os animais como "meros objectos inanimados", como preconizam as teses mecanicistas cartesianas, mas "indivíduos inerentemente respeitáveis"? Indivíduos, uma manada de vacas? Bom, por esse caminho, não tarda nada temos petições a exigir o direito a casar com as vacas, ou que os simpáticos ruminantes possam votar e ser eleitos em cargos políticos. e se são indivíduos, porque é que não podem ser utilizados em publicidade? Ou serão mais do que os actores? É caso para perguntar: afinal, onde está realmente o absurdo?


Podia ser um mero fait-divers, não fosse o mesmo indivíduo e o seu grupinho de pretensos "amigos dos animais" um reincidente no disparate de querer equiparar animais a pessoas. Já tinha ficado com uma ideia do que é esta ANIMAL. Num artigo de jornal falava-se num filme documental sobre touradas, Pega de Caras, em que a meio há um debate entre um ganadeiro e o mesmíssimo Miguel Moutinho. Diz o segundo: "O nosso objectivo é acabar com as touradas. A tourada é um acto bárbaro, não tem lugar no nosso tempo". Responde o ganadeiro: "Eu respeito as instituições protectoras dos animais. Mas eles também têm de respeitar a minha profissão e o espectáculo dos touros. Porque se há alguém que cuida e ama a festa dos touros e os touros são os próprios toureiros". Que respondeu o ANIMAL-mor? "Dizer que os toureiros são os melhores amigos dos touros é o mesmo que dizer que os pedófilpo são os melhores amigos das crianças e que os proxenetas são os melhores amigos das prostitutas".


Para terminar, a mesma personagem escreveu um texto qualquer intitulado "O Vegetarianismo como Obrigação ética". Deixa portanto o vegetarianismo de ser uma opção alimentícia e de vida para ser uma "obrigação ética". Pudera: o contrário implicaria o sacrifício de "indivíduos inerentemente respeitáveis".

Percebo e concordo com algumas medidas de salvaguarda dos animais, como as condições de transporte, de tratamento e de abate. Abomino os abandonos de pobres animais domésticos, e nem consigo perceber para que é que a pessoa os quer se depois os abandonam. Tive um cão quando era pequeno e jamais me passaria pela cabeça abandoná-lo (ainda me lembro do desgosto que tive com a morte dele). Mas estas atitudes primam pelo radicalismo, pela ignorância e pela insensatez. Ao ouvir coisas destas dá-me a sensação de estar perante um filme dos irmãos Marx. Entre todas as modas activistas, esta é uma das mais perniciosas, desenvolvida por neo-hippies com vagas influências orientais e em certas ocasiões com uma linguagem próxima do terrorismo. Pense-se no assassino do polémico Pim Fortuyn, ou em Brigitte Bardot, uma das pessoas que mais ódio devota à espécie humana (comparou a sua gravidez a um cancro no ventre) transformada em caquética fã de Le Pen, no apologista do infanticídio Peter Singer ou nos insultuosos PETAs e o seu terrorismo publicitário e fica-se com uma ideia até que ponto podem chegar os mais radicais desta causa.


Mas o que mais me irrita é que a maioria destas pessoas vem de um ambiente urbano e jamais teve vivência rural. As respostas dadas pelo dirigente da ANIMAL aos ganadeiros revelam, além de fraca educação, uma pesporrência, uma arrogância intelectual despropositada e patética. São os parolos da cidade, os criadores de animais em aquário, os ecologistas de manual, que não fazem a menor ideia do que é a vida rural, tal como a maioria dos portugueses, citadinos ou suburbanos. Não sou aficionado nem nunca assisti a uma tourada, mas tenho mil vezes mais simpatia pelos campinos, forcados e ganadeiros, que sabem o que são as agruras do campo e convivem com os animais, deles tratam e preservam as ainda existentes tradições de valentia, do que a patetice urbano-chique dos auto-intitulados "amigos dos animais".

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