É hoje que os Ornatos Violeta retornam aos palcos, no acolhedor anfiteatro de Paredes de Coura. Um regresso há muito esperado, como o comprovam os quatro concertos agendados para Outubro, no Porto e em Lisboa, há já algum tempo esgotados, mesmo com reforço de datas. No Alto Minho também não deve faltar público. Os Ornatos marcaram o fim dos anos noventa, e embora tenham lançado apenas dois álbuns, tornaram-se uma banda de (enorme) culto, ao mesmo tempo que se pulverizavam em inúmeros outros projectos, sobretudo do seu frontman, Manuel Cruz. Não deixarão certamente de tocar músicas como Ouvi Dizer, Capitão Romance (provavelmente sem o dueto com o vocalista dos Violent Femmes), a Dama do Sinal ou Punk Moda Funk.
Esta última, primeira faixa do primeiro álbum do grupo, abre logo a matar (com um corrosivo "quero mijar"), revelando a primeira faceta dos Ornatos, mais rocker, mais subversiva, com um vídeo ainda de qualidade incipiente. Mas chamou-me a atenção para um pormenor, o do lugar onde a banda encena a música.
Talvez pelo seu aspecto já decadente, escolheram a casa da quinta do Montado, ou Marques Gomes (nome do construtor), um palacete hoje decrépito no alto de uma colina em Canidelo, Gaia, perto da Afurada, bem visível da marginal da Foz do Douro. Não faltam na net imagens do exterior e dos interiores do palacete arruinado, com uma aura de imponência classicista, que, talvez pelo seu aspecto, tem, como não podia deixar de ser, fama de ser assombrado (pelo menos a acreditar num livro recente sobre o assunto).
Porque terão escolhido os Ornatos violeta semelhante cenário para o seu primeiro videoclip? É difícil de dizer. Mas há um interessante contraste entre as músicas corrosivamente juvenis do fim dos anos noventa e esta jóia arruinada. Talvez quisessem tomar um cunho de certa marginalidade e usassem um espaço devoluto, para acentuá-la, ainda que com requinte. O que é certo é que os Ornatos voltaram à vida e uma legião de fãs correm a assistir. Entretanto, todos podem também "assistir" ao palacete, e sem pagar bilhete. Mas neste caso, não se trata da sua ressureição, mas da morte lenta. O edil Luís Filipe Menezes, sempre pronto a abrir a bolsa, não tem nenhum plano para o local, ou já só pensa noutro edifício com uma torre, mas do outro lado do rio, no alto não de uma colina mas da Avenida dos Aliados?
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