segunda-feira, novembro 05, 2012

Uma mentira pouco notada


 
Uma das polémicas periféricas e condenada a ser esquecida numa questão de dias é a das declarações do Embaixador de Israel, Ehud Gol, na Gulbenkian, esta semana. O diplomata israelita disse que "Portugal tem uma nódoa que os judeus não esquecem", mesmo que "hoje não seja o mesmo do passado". E em que consiste principalmente essa nódoa? Na história de que " Portugal foi o único país que colocou a sua bandeira a meia haste durante três dias", quando soube da morte de Adolf Hitler". E sublinho "história" porque de facto não corresponde à verdade. Sim, é certo que o governo português ordenou que se pusesse a bandeira a meia-haste quando se soube do morte/suicídio do Fuhrer, como aliás manda o protocolo em relação a todos os países com quem se mantém relações diplomáticas. Mas esteve longe de ser o único. Recordando o sempre oportuno Herdeiro de Aécio (que está de parabéns, por chegar ao sétimo aniversário), constata-se que as bandeiras a meia-haste não foram içadas apenas em território português: também a Espanha (neutral mas pró-eixo), a Irlanda, a Suécia e a Suíça o fizeram, e Éamon De Valera, o chefe de governo irlandês (Taioseach) e um dos fundadores da República da Irlanda, visitou mesmo a legação alemã e assinou o livro de condolências.
 
Talvez fosse conveniente ao representante hebraico não enveredar por mitos históricos antes de fazer quaisquer críticas ao país onde apresentou credenciais. Além de deselegante e petulante, não lhe fica nada bem dizer mentiras em público, mesmo que poucos o soubessem. Até porque falando em nódoas, não há nação que não as tenha, e Israel não escapa à regra.

5 comentários:

A.Teixeira disse...

Muito obrigado pela referência e pelos seus votos João Pedro.

Quanto ao que escreveu, pelo perfil das pessoas que foram convidadas a publicitar previamente o evento da Gulbenkian (http://www.rtp.pt/programa/tv/p28553/e34), a única surpresa do discurso que refere terá sido o autor, não o teor e ideologia do discurso, que até foi acompanhado por outros semelhantes como este (http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/portugal-holocausto-judeus-salazar-tvi24/1387998-4071.html) ou este (http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=599096). Mas é de salientar (e louvar) que, mesmo assim, há quem não tenha tido receio da impopularidade das suas opiniões naquele coro: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2852641

Marcos Pinho de Escobar disse...

Excelente texto! Parabéns por restaurar a verdade histórica. Cumpts.

João Pedro disse...

Obrigado, Marcos, há mesmo "verdades" que não passam de mitos.

A. Teixeira, viu por acaso o artigo de Pedro Lomba no Público? Pode vê-lo aqui (http://estadosentido.blogs.sapo.pt/2291875.html); aparentemente, nas suas investigações passou por este blogue, e sobretudo pelo seu. Quem sabe se não tivesse escrito aqueles posts, o mito não tinha sido desvendado.

A.Teixeira disse...

Já fui ler o artigo de Pedro Lomba graças à sua chamada de atenção.

De facto há no texto um encadeamento de de referências coincidentes (de Valera, Roosevelt,...) que me leva a concordar com a sua suposição de que, como diz, ele passou por aqui.

Contudo não sou tão optimista quanto a perpetuação do mito: enquanto servir de arma de arremesso político creio que ele permanecerá "por aí". Aliás, é por não servir para isso que o assunto parece há muito encerrado na Suécia e na Suíça.

Anônimo disse...

Ver video:

http://www.youtube.com/watch?v=vEf2ua5YHBY&bpctr=1352605579