Finalmente pudemos assistir a um debate entre todos os candidatos à Câmara Municipal do Porto, emitido pela Porto Canal. O modelo adivinhava-se complicado, mas Júlio Magalhães soube geri-lo bem, com o brinde não haver palmas de apesar da presença de público e de apoiantes dos candidatos, sobretudo integrantes das suas listas. Ouviram-se algumas ideias com interesse, houve muita palha pelo meio, e as habituais picardias e momentos caricatos da praxe.
- Rui Moreira: sóbrio no geral, sintetizou o seu programa de maneira eficaz e simples, mas podia ter sido mais concreto nalgumas áreas e afirmar-se mais relembrando a sua luta contra a centralização da ANA e de Leixões, além de que devia ter defendido mais eficazmente o seu mandato na SRU. Ganhou nos apartes com outros candidatos, embora pudesse ter sido mais contundente contra Menezes.
- Luís Filipe Menezes: mais contido do que se pensaria, excepto quando se envolveu numa troca de palavras com Moreira e Pizarro. Conseguiu camuflar as propostas megalómanas e puxar dos galões das suas vitórias em Gaia. Aguentou-se bem, mesmo sem conseguir passar totalmente a imagem de liderança que desejaria.
- Manuel Pizarro: conhecedor do Porto, menos talvez da situação da Câmara, desaproveitou uma oportunidade de se afirmar como real alternativa, apesar dos despiques com Menezes e Cardoso. Mostrou ideias sóbrias e a merecer estudo. A falta de notoriedade e carisma são os seus maiores adversários. Como disseram alguns comentadores, seria melhor presidente do que candidato.
- Pedro Carvalho: à semelhança do seu antecessor da CDU, Rui Sá, mostra que mantém intenso contacto com a população e um bom conhecimento das condições sociais mais preocupantes e dos vários dossiers. Perdeu ao tentar colar Rui Moreira ao governo, mas marcou pontos quando obteve dos outros candidatos a promessa explícita de revogação do novo regulamento dos bairros municipais.
- José Soeiro: estudou bem determinadas situações, como a do futuro do Aleixo, em que era sem dúvida o mais informado. Perdeu-se muito no discurso ideológico, como as arremetidas contra "os privados", ou no apelo à "revolução cidadã" e a "viragem nacional à esquerda". Deverá ficar-se pelo nicho do BE e dificilmente será eleito vereador. Apesar das suas qualidades, no futuro terá de se focar mais em problemas concretos e menos ideologizados.
- José Manuel Santos: o menos interventivo, levantou o problema de falta de escala e de dimensão do Porto, apontou alguns projectos internacionais a ser aproveitados, mas também caiu na excessiva ideologização, e mostrou que era o mero candidato do MRPP de ocasião ao afirmar que o que importava era a ideologia e não o candidato.
- Costa Pereira: se a ideia era mostrar-se ao público, conseguiu. Protagonizou alguns momentos rocambolescos, embora sem atingir o nível de burlesco dos candidatos do seu movimento, o PTP (que parece ser um autêntico alfobre de "cromos" destas autárquicas). Ficou bem expresso o seu "romantismo" ao propor um minuto de silêncio em memória dos bombeiros (o que conseguiu, com ajuda de Cardoso), e quando dizia, qual D. Quixote desta eleição, que todos os outros candidatos "tinham partidos por trás", e que ele tinha um pequeno grupo de cidadãos, como se não concorresse sob a sigla do PTP.
- Nuno Cardoso: deixei para o fim propositadamente, não apenas por ser o último a apresentar-se mas porque me merece mais algumas notas. A princípio julguei que fosse um candidato fantoche de Menezes (que em Gaia concedeu ajustes directos à empresa a que presidia) para tirar votos ao PS. Vejo agora que talvez me tenha enganado. Ou talvez isso também possa ser considerado, mas acima de tudo o que notei é que Nuno Cardoso tem-se numa conta absurdamente alta e cultiva uma mitomania patética. Segundo o candidato independente, o traçado e a concretização do metro do Porto deveram-se a ele, bem como a conclusão da VCI, o alargamento do Parque da Cidade, e até o manifesto que desencadeou o movimento popular que impediu a venda do Coliseu à IURD. O facto do presidente à altura ser Fernando Gomes e dele nem sequer ser em boa parte do tempo vereador, mas um assessor, pouco lhe importa. Entre os sms que apareciam no ecrã, invariavelmente a babujar os candidatos, apareceu um, certeiro, que exclamava que "daqui a pouco Cardoso diz que mandou construir a Torres dos Clérigos!" Para cúmulo, a certa altura falava de si na terceira pessoa. Resta acrescentar que no logótipo da sua candidatura aparece um "N" com a inscrição "sou ÉNE", e como o slogan "Porto de Futuro" não tem a palavra "Norte" incluída, isso indicia que Nuno Cardoso tem um sentimento napoleónico pouco discreto. De positivo ficou a abertura e limpeza do Cinema Batalha para sede de candidatura, bem como o convento de Francos, e algum conhecimento da rede viária e urbana da cidade (embora tenha lançado a ideia peregrina de que a desertificação do centro da cidade se devia às deficientes vias de comunicação, como se estas não permitissem tanto a entrada de gente como a saída). Claro que não se referiu às obras inacabadas e às dívidas de quando saiu da presidência da câmara, ou aos processos judiciais em que se viu envolvido. Um mitómano nunca tem uma má face. Nuno Cardoso acha-se "éne" fantástico, que se há de fazer?
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