Habitualmente sigo muito cada eleição autárquica. É por aí que se conhece o chamado "país real", que se ouve falar de terras até aí desconhecidas (conheci de nome imensos concelhos só por causa destas eleições), que se vêm as mais divertidas e disparatadas campanhas, que se viaja no fundo um pouco por todo o território. E até o peso sociológico dos partidos pode ser avaliado com o passar dos tempos - concelhos que com a mudança do presidente passam a mudar a cor do voto em todas as eleições, por exemplo, o desaparecimento do CDS da Beira interior, onde já dominou, a menor influência do PCP no Alentejo e na "cintura industrial de Lisboa", etc.
Para além dos resultados, sigo as campanhas. E esta, a par dos "tesourinhos das autárquicas", dos comícios-concerto e dos porcos assados, revelou um fenómeno curioso: a Vokswagen Kombi, ou Transporter, vulgarmente conhecida como "pão de forma", tornou-se um dos veículos mais usados na propaganda eleitoral. Esta velha e fiável carrinha, venerada pela geração flower-power, é um dos grandes mitos automóveis, pelos milhares de unidades construídas e por um certo romantismo construído à sua volta. E muitas foram recuperadas para andar pelos concelhos fora, como veículo de campanha (literalmente), com alguns resultados engraçados. Na de Rui Moreira, por exemplo, a "pão de forma" tornou-se num ex-líbris da sua campanha, sempre com a "juventude moreirista" em grande algazarra. Em Bragança, Júlio Meirinhos, o ex-autarca de Miranda e antigo Governador Civil que tenta reconquistar a capital do Nordeste transmontano para o PS, usa uma como sede móvel de campanha. e tenho notícias de outras, que agora não me ocorrem.
Simplesmente, soube-se há pouco que a Volkswagen não mais produzirá as "pães de forma", fechando a última linha de montagem, no Brasil, no fim do ano, devido a novas regras de segurança que não são adaptáveis às célebres carrinhas. A notícia não apanhou ninguém de surpresa, já que se previa o fim muito próximo. Assim sendo, o que motivará o seu uso massivo nas eleições, ou noutros contextos (ambulâncias, por exemplo)? Será o revivalismo que surgiu de súbito com o pré-anunciada fim de linha? Ou o espírito "peace and love" invadiu as campanhas eleitorais? Olhando para as habituais guerrilhas, parece menos provável do que a primeira hipótese. Ou talvez quisessem manter um espírito de romantismo, ou uma imagem de irreverência, de "juventude", para cativar os eleitores. De facto, as campanhas autárquicas precisam de algum sangue novo, se bem que por vezes exagerem e acabem em autênticas criancices. Seja como for, as históricas carrinhas dão mais cor e simpatia às campanhas. Por mim, podem continuar, até porque, avaliando o enorme número que saiu das linhas de montagem, não vão desaparecer assim tão cedo.
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