Já se sabia que Marinho Pinto era um populista, um demagogo, um justicialista, ocasionalmente oportunista, embora não fosse um radical, e talvez por isso mesmo muitos tenham votado nele nas europeias. O que não se imaginava era que fosse tão descaradamente troca-tintas e que o seu oportunismo - misturado com algum deslumbramento pacóvio - atingisse os píncaros desta forma. Mal chegou ao Parlamento Europeu declarou que se iria candidatar às legislativas no ano seguinte,mostrando a enorme consideração (e conhecimento) pelo cargo para o qual tinha sido eleito. Depois, mostrou-se revoltado com o vencimento do mesmo, sem no entanto renunciar a uma parte que fosse ou propor a sua redução, com o extraordinário argumento de que tinha uma filha a estudar e que "um comunista não divide o seu salário pelos proletários" (os deputados do PCP, honra lhes seja feita, renunciam a parte do que ganham). Um perfeito exemplo de desprendimento e de justiça distributiva, em que não faltou a habitual zanga com o jornalista que o interrogava, tentando inverter as culpas. Agora abandonou o Partido da Terra, reafirmando que era meramente uma "barriga de aluguer", dois dias depois de uma reunião com os órgãos partidários em que tinham afinado estratégias e nunca tinha transparecido a sua decisão em deixar alegremente a formação que lhe permitiu a eleição para o PE. Podia ser apenas a denúncia dos seus dirigentes, mas o próprio ex-bastonário confirmou-o, com a maior calma deste Mundo, faltando mesmo à cerimónia de integração no grupo dos liberais europeus (grupo que o tinha acolhido depois de não ter sido aceite pelos Verdes). Depois destas brincadeiras todas, de contradições, hipocrisias e desculpas esfarrapadas, sempre com aquele ar de moralista coimbrão contra os vícios da capital, resta saber quem se deixará enganar por Marinho Pinto. Lembra o caso de José Manuel Coelho, mas pelo menos transitou para um partido mais próximo da sua ideologia, e tanto quanto me lembre, não deixou o anterior de um dia para o outro. Razão tinha quando acusou o ex-bastonário de ser um "falso profeta". Desde já, perco o meu respeito por quem votar no demagogo-mor de Portugal. À primeira todos caem, à segunda só cai quem quem quer.
terça-feira, setembro 16, 2014
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