Aquelas imagens dos soldados ucranianos prisioneiros em Donetsk, seguindo numa parada organizada propositadamente para respnder às comemorações da independência da Ucrânia e para os humilhar, sob uma escolta de milicianos de baionetas em punho enquanto a populaça os insultava ou fotografava com os telemóveis, é bem demonstrativa dos valores dos separatistas e dos russos que os apoiam. Além de pouco consentâneas com as leis dos prisioneiros de guerra, evocam as paradas que Estaline realizou com prisioneiros alemães, com o expressivo acto de porem um camião a lavar as ruas atrás das suas pegadas, como se fossem sub-humanos. É uma boa expressão da cultura semi-bárbara da Rússia, cuja natureza continua igual ao que era há séculos. Não esquecer igualmente que têm o apoio de brigadas de sérvios e caucasianos, autores de crimes de guerra, e que o seu "ministro da defesa", Strelkov, é ele próprio um russo acusado de actos pouco limpos nesses cenários de guerra.
Em tempos de evocação de guerras, convém também lembrar que não só passaram cem anos do início da 1ª Guerra Mundial, mas também 75 da invasão da Polónia pela Alemanha. Depois do Anchluss da Áustria e da anexação da Checoslováquia com o pretexto dos povos dos Sudentenland estarem em perigo, uma falsa provocação deu o pretexto para que os panzer entrassem pela Polónia dentro. Isto sempre sob a premissa de que ou era por vontade dos povos germânicos anexados, ou que estes estavam ameaçados pelos seus vizinhos. Em 2014 verificámos, no seguimento da mudança do poder em Kiev, a anexação da Crimeia por parte da Rússia com um referendo muito pouco transparente (tal qual como na Áustria em 1938), a tomada de boa parte dos territórios das regiões da bacia do Don por separatistas pró-russos, auxiliados por mercenários estrangeiros e por tropas russas mal disfarçadas, e a ameaça da Rússia de intervir caso os "seus" fiquem em perigo ou as suas fronteiras sejam ameaçadas. Não por acaso a URSS assinou o pacto Molotov-Ribentropp com a Alemanha, permitindo que esta entrasse na Polónia, enquanto os soviéticos faziam o mesmo do outro lado e ainda atacavam a Finlândia. Claro que a Rússia de hoje não tem os níveis de fanatismo e demência do 3º Reich de 1939, nem procura criar um Super-Homem (a não ser que esse seja Putin). Mas prossegue na senda do seu sonho eurasiático, que inclui a "nova Rússia", no Sul, e por isso estende uma teia em que oficialmente não intervém no conflito da bacia do Don, mas de facto propaga-o e manobra os cordelinhos de uma parte. E trazendo, como se viu na estranha parada de Donetsk, recordações margs de tempos idos.
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