sábado, novembro 29, 2014

E ensinar a alguns jornalistas algumas noções de geografia política?

É curioso ver algumas gaffes ou omissões dos nossos jornalistas televisivos. Na última semana encontrei dois casos que mostram o incrível desconhecimento (de geografia política, sobretudo) da classe do que se passa no Mundo.
Achava que o nosso jornalismo desportivo era melhor, mas aparentemente enganei-me (o televisivo, pelo menos). Ainda sobre o Portugal-Argentina de há dias, um jogo maçador e frustrador das expectativas de quem ia ver um duelo de selecções entre Cristiano Ronaldo e Messi, era bom saber quem teve a ideia de marcar aquele jogo no estádio de Old Trafford, casa do Manchester United, à mesma hora de um Escócia-Inglaterra. Como era de prever, só esteve meia casa, e quase ninguém devia ser britânico, a avaliar pelas bandeiras e pelas feições do público. O que não admira. o confronto entre ingleses e escoceses é o mais antigo entre selecções, e ainda mantém alguma chama de rivalidade, provavelmente atiçada com o recente referendo sobre a autodeterminação na Escócia. Ou seja, os ingleses estavam todos a ver o jogo da sua equipa, que aliás até ganhou. Mas na maçadoria do jogo, e por causa das múltiplas nacionalidades presentes no estádio, sobressaiu a certa altura a entrada de um adepto pelo relvado dentro. Os stewards agarraram-no e a brincadeira acabou ali. Os jornalistas, entre gracejos, repararam que tinham uma camisola argentina, mas provavelmente por ignorâncias, não falaram da bandeira que adepto empunhava, que era simplesmente a do Curdistão. O que se percebe perfeitamente, numa altura em que os curdos, ao mesmo tempo que têm mais autonomia do que nunca, debatem-se com a ameaça do autodenominado "Estado Islâmico", ou califado do Levante. Aparentemente ninguém na imprensa portuguesa referiu isso. Caso fosse, por exemplo, um palestiniano, ou um catalão, com toda a certeza que não se esqueceriam. Mas como a causa curda não tem a mesma popularidade e provavelmente acharam que aquela bandeira tricolor com um sol no meio era apenas o distintivo de um qualquer clube de futebol, a coisa passou incógnita. Para uns será um pormenor de somenos. Para outros, e olhando para o que se passa na região do Curdistão, deveria ser uma falha digna de repórteres apenas e só da bola, como se demonstrou ser.


E ontem, mais uma falha, esta quase burlesca: aquela em que um jornalista, nos Emirados Árabes Unidos, relatava a visita de Cavaco Silva à federação da Arábia, dizendo que o chefe de estado português seria recebido pelo "príncipe herdeiro e presidente da república". Um paradoxo só explicável por se tratar de uma monarquia electiva, mas que nem por isso se trata de uma república, nem tem um "presidente".


Nenhum comentário: