Passou-se o Natal, mais uma vez. Os habituais encontros à volta da mesa, reencontros com familiares, publicidade e cores da época, etc. Infelizmente os dias não são de alegria para todos - para os que perdem um familiar em plena véspera de Natal por exemplo (como é que se festeja a quadra depois disso?). Enfim, acrescente-se o encontro com locais onde há muito quereríamos ir, e que parecem esconder-se misteriosamente atrás de um nevoeiro que substitui a neve e a chuva da quadra. Ou com tradições ancestrais, semi-pagãs, de comemoração do solstício de inverno à volta de enormes fogueiras, hoje reproduzidas nos madeiros que em certas regiões não faltam em nenhuma localidade.
Tradição única, para além do madeiro, é a que existe em Aldeia Viçosa, no vale do Mondego. Certa benemérita do Séc. XVII, crê-se, deixou em testamento que aos habitantes da aldeia (que na altura tinha o menos airoso nome de Porco) fosse distribuído todos os anos, no dia a seguir ao Natal, castanhas e vinho, em troca de uma missa pela sua alma. Os seus bens não pagaram indefinidamente a oferta, mas a tradição manteve-se graças à junta de freguesia e a alguns patrocinadores e todos os anos um grupo de rapazes da freguesia sobe ao campanário da igreja matriz, iça uns sacos de castanhas e lá do alto distribui (eufemismo para dizer que alveja) as castanhas pelos populares. Diga-se de passagem que quem quiser apanhar algumas terá de enfrentar umas valentes castanhadas em cima. Depois, acompanhados por grupos de música e ao lado do madeiro que ainda conserva brasas, distribui-se o vinho devido, além de azeite da região. Às seis da tarde, remata-se a tradição, com uma missa por alma da velha de quem nem os registos paroquiais conservam o nome. Mas o seu acto e a sua dádiva mantiveram-se ao longo dos séculos, até hoje.
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